Empresário Rogério Chequer, do Vem Pra Rua, disse que governo precisa “reconhecer erros”
Um discurso vazio e sem conteúdo. É dessa forma que o empresário Rogério Chequer, principal porta-voz do movimento Vem Pra Rua, avalia a resposta do governo federal aos protestos contra a corrupção e contra o PT que ocorreram neste domingo (15) em várias cidades do País.
Na noite de ontem, logo após as manifestações, os ministros José Eduardo Cardozo, da Justiça, e Miguel Rossetto, da Secretaria-Geral da Presidência, disseram em entrevista coletiva que, nos próximos dias, o governo vai anunciar um pacote de medidas contra a corrupção.
Chequer disse ao R7, no fim da noite de ontem, que “foi uma resposta vazia, não teve novidades”.
— O que o movimento pede, o que as ruas estão pedindo é um reconhecimento do governo de tudo o que está errado, para depois agir. Não adianta só trazer uma lei anticorrupção. Isso não implica no reconhecimento do que está aí. Não vejo nada de novo.
Cardozo declarou que o governo “admite divergências e defende as manifestações dentro da ordem democrática”.
— Essas manifestações, tanto a de sexta (13) e a deste domingo (15), mostram que o Brasil vive um estado democrático e está muito longe de alternativas golpistas. O governo respeita o diálogo e respeita as divergências.
Já Miguel Rossetto destacou que “manifestações pacíficas e sem violência fazem parte do processo democrático” e afirmou que “todas as medidas contra corrupção estão sendo tomadas”.
Segundo a empresa de consultoria Bites, que faz análise de repercussão em redes sociais, a fala de Rossetto foi qualificada, no geral, como “agressiva”, enquanto que Cardozo foi “apaziguador”. Com isso, Rossetto conseguiu mais menções (17.767 contra 11.574, até as 20h), chegando a entrar no Trending Topics Brasil (lista dos assuntos mais comentados no Twitter).
Para o sociólogo Rodrigo Estramanho, professor na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, há “uma dificuldade do governo de articular respostas rápidas aos problemas mais gerais”.
— Acho importante que se organize respostas institucionais ao problema da corrupção no Brasil.
Rumo da mobilização é incerto, dizem especialistas
Sobre as próximas estratégias do Vem Pra Rua, Chequer disse que a reforma política entra em pauta, a partir de agora. Ele afirmou também que o grupo “vai continuar lutando por um governo que não minta, não esconda, não encubra a corrupção que afeta o dinheiro da sociedade”.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
R7: Como você avalia os protestos de domingo?
Rogério Chequer: Isso mostrou o tamanho da indignação que está no povo, em todas as classes, de A a E. Quem foi lá [na manifestação] viu que tinha todas as classes sociais, inclusive quem geralmente vota no PT. Isso foi um grande avanço. Não foi uma surpresa, mas é por isso que vínhamos trabalhando. Hoje ficou claro que todas as classes estão insatisfeitas com o governo.
R7: Tem algum ato já marcado?
Chequer: Nada marcado.
R7: Você ouviu a declaração dos ministros? O que você achou?
Chequer: Eu tive um pouco de dificuldade em ouvir os ministros, porque o barulho do panelaço que entrava pela janela me obrigou a aumentar o volume da TV.
Achei, em primeiro lugar, muito interessante o governo marcar coletiva justamente após as manifestações para anunciar um plano que já exista e que ainda não foi implementado. Então não entendi por que eles se manifestaram desse jeito.
R7: Você esperava algo diferente?
Chequer: Eu não esperava nada diferente, foi declaração vazia. Não teve novidade. O que o movimento pede, o que as ruas estão pedindo é um reconhecimento do governo de tudo o que está errado, para depois agir. Não adianta só trazer uma lei anticorrupção. Isso não implica no reconhecimento do que está aí. Não vejo nada de novo.
R7: Se o governo encampar a luta contra a corrupção, isso poderia desmobilizar as manifestações?
Chequer: De forma nenhuma, porque isso não corrige outras coisas, como todas as mentiras feitas nas eleições. Seria um passo positivo do governo. Mas resolver todos problemas que ele causou com a sociedade, acho que não é o caso.
R7: O Vem Pra Rua, oficialmente, não defende o impeachment, mas as lideranças gritaram Fora Dilma” e “Fora PT” durante o protesto na Paulista. Isso está ou não na pauta do movimento?
Chequer: Nós não somos a favor do impeachment hoje. Não existe uma base jurídica suficiente para impeachment hoje. A partir do momento em que houver base jurídica para isso, podemos a qualquer momento reanalisar a nossa posição. Se as provas vierem à tona, nós podemos reposicionar nossa opinião a qualquer momento.
R7: O que muda a partir de agora? Até onde o movimento quer chegar?
Chequer: A gente quer continuar lutando por um governo que não minta, não esconda, não encubra a corrupção que afeta o dinheiro da sociedade, e que tenha um pouco de respeito por uma sociedade que clama um basta.
R7: Você acha que o governo está encobrindo a corrupção?
Chequer: Ao não reconhecer os descalabros na Petrobras, a sociedade não consegue fechar a história. Ela quer saber qual é o real envolvimento do governo, porque a polícia já descobriu que havia uma relação com políticos, inclusive do governo. Talvez encobrir não seja a palavra. No momento em que eles reconhecerem isso [os erros], a gente pode começar até a conversar.
R7: A reforma política não foi defendida no protesto na Paulista. Ela é uma das bandeiras do grupo?
Chequer: A reforma política é uma bandeira muito importante para o Vem Pra Rua a partir de agora.
R7: Por que a partir de agora?
Chequer: Porque o governo hoje trouxe como opção, como um argumento para solucionar os problemas atuais, a reforma política. Mas, em primeiro lugar, não é uma reforma que está em linha com a que nós defendemos.
Em segundo, não é uma reforma política [a do governo] que vai consertar a corrupção endêmica nas empresas estatais. Em terceiro lugar, o que foi clamado hoje não foi uma reforma política. Não é sobre isso que as ruas falaram. Hoje foi sobre corrupção, mentiras, a forma como estão conduzindo economia, inflação e corrupção. Corte de dinheiro pra educação.
R7: Qual é a proposta de reforma política do movimento?
Chequer: Isso eu não quero ainda compartilhar.
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Fonte: R7