A criminalidade na Amazônia está muito longe de ser um problema apenas local e vai além dos crimes relacionados ao meio ambiente, segundo um estudo organizado pelo Instituto Igarapé que analisou mais de 300 operações da Polícia Federal realizadas entre os anos de 2016 e 2021. O levantamento faz parte da série de pesquisas “Mapeando o Crime Ambiental na Amazônia” e foi divulgado pela ONG nesta quarta-feira (20).
Segundo os dados reportados no artigo “Territórios e caminhos do crime ambiental na Amazônia brasileira: da floresta às demais cidades do país”, o ecossistema da criminalidade mantido na região é organizado e envolve 24 dos 27 estados brasileiros — ficam de fora apenas o Alagoas, Pernambuco e Paraíba. As ramificações dessa cadeia se desdobram em 254 cidades do país e em outros países da América do Sul (incluindo o Brasil e outros países).
Os territórios mapeados nas operações da PF estão localizados em 197 municípios da Amazônia Legal, em 57 municípios fora da Amazônia Legal e em oito cidades de países vizinhos. As ações policiais foram motivadas pelo desmatamento descontrolado na região e tiveram como alvo diferentes atividades, como a extração ilegal de madeira, o garimpo — especialmente do ouro —, a grilagem de terras e atividades agropecuárias.
O Pará é o estado que mais aparece no mapeamento, com 83 operações. Ele é seguido de Rondônia (122) e Amapá (101). Fora da Amazônia Legal, o estado que se destaca é São Paulo, com 36 ações da Polícia Federal, seguido do Paraná (14) e de Goiás (10). Fora do Brasil, as operações tiveram desdobramentos na Venezuela e Guiana Francesa (cinco em cada), Suriname (quatro), Colômbia (duas), Paraguai e Bolívia (uma em cada).
O estudo mostra que quase metade das ações policiais analisadas foi deflagrada em terras indígenas ou outros tipos terras públicas. No levantamento, o Instituto Igarapé alerta que áreas protegidas da região se encontram cada vez mais sob ameaça não apenas de irregularidades ambientais, como de outras práticas criminosas — violência, corrupção, crimes financeiros, entre outros.