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O iPhone das baterias

Atualizado há

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Com o lançamento de baterias domésticas e empresariais, diminutas e acessíveis, a Tesla se reafirma como uma empresa inovadora e ataca o maior entrave atual do setor tecnológico.

Elon Musk tem um elemento essencial em comum com Steve Jobs. Assim como o genial fundador da Apple, Musk ficou conhecido por remodelar inovações tecnológicas para torná-las viáveis comercialmente. Com isso, o cotidiano das pessoas muda para sempre. A Apple fez isso com a computação pessoal nos anos 70 e 80, com a música e os smartphones na década passada, com os tablets em 2010 e agora procura o mesmo com os relógios inteligentes com seu novo Apple Watch. Já Musk direciona seu ímpeto a tecnologias menos evidentes para o público em geral, mas também fundamentais. Basta ver o rebuliço que criou no e-commerce ao lançar o PayPal, em 1998, e a forma como fundou a exploração espacial privada com sua SpaceX, em 2002. Nos últimos doze anos, o icônico empresário do Vale do Silício, apelidado de “Homem de Ferro” (referência ao super-herói bilionário dos quadrinhos e dos cinemas) por mesclar o lado empreendedor e inventor com o estilo de vida playboy, tem se dedicado especialmente a viabilizar comercialmente as fontes limpas de energia. Para isso, criou a Tesla, fabricante de carros elétricos cuja meta não se restringe a remodelar a indústria automobilística. Como Musk esclareceu ao apresentar suas novas baterias solares residenciais e empresariais no último dia 2, ele pretende eliminar gradualmente a dependência humana de fontes energéticas poluentes, a exemplo do carvão, oferecendo energia limpa, fácil de ser captada e barata.

Musk lançou dois modelos de baterias que armazenam energia captada de painéis solares ou mesmo (se necessário) da rede elétrica da cidade. Um é residencial, o outro é empresarial. Para casas, a Tesla comercializa o Powerwall, um módulo de 130 por 86 centímetros, que pesa 100 quilos, vem em dez cores diferentes, e é pequeno o suficiente para ser instalado na parede de uma garagem – contanto que a temperatura exterior não seja inferior a 20 graus ou maior que 43 graus. Em pré-venda, custa 3 000 dólares na opção de 6 quilowatts hora e 3 500 dólares na de 10 quilowatts hora. Para empresas, oferece o PowerPack, do tamanho de uma geladeira e com capacidade de 100 quilowatts hora, ainda sem preço definido, mas que deve começar a ser comercializado neste ano.

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Baterias, a última fronteira da inovação

A versão residencial foi a mais celebrada no dia do lançamento – até porque ainda não se sabe muito da eficiência prática da empresarial. Não se trata, é evidente, da primeira bateria interligada a painéis solares e que pode ser instalada em casas de todos os tipos. Os modelos de rivais, porém, eram trambolhões pesados que custavam de 10 000 a 25 000 dólares para fornecer quantidade similar de energia. Além disso, diferente da novidade da Tesla, precisavam ser reprogramados diariamente e tinham de ser instalados no chão, não na parede, ocupando espaço demasiado. Em outras palavras, eram os smartphones antes do lançamento do iPhone – produtos caros e de uso incômodo.

Além de ser diminuta e mais barata, a Powerwall se programa sozinha para, por exemplo, captar energia de painéis solares da casa em momentos de pico, pela manhã e à tarde, e fornecer à noite e de madrugada. Ela é útil para manter as funções básicas de uma residência, como as lâmpadas acesas, ou para suprir a demanda de um eletrodoméstico “gastão”, como uma máquina de lavar roupa. Também pode manter ao menos as luzes de casa ligadas durante 24 horas durante um apagão na cidade – mas seriam necessárias quatro delas para suprir toda a demanda de uma típica família americana. Aliás, essa é também a maior utilidade da versão empresarial: diminuir a dependência do sistema público; se a rede cair, a PowerPack mantém ao menos o básico funcionado em uma loja, um supermercado ou uma fábrica.

Mesmo custando menos da metade do preço da concorrência, porém, as baterias da Tesla ainda não se mostram econômicas no dia a dia. “Não traz um bom custo-benefício, precisaria de ao menos quatro desses dispositivos para sustentar minha casa e eliminar a dependência do sistema público, mas a conta pode mudar quando o preço começar a cair”, opina o empresário mineiro do setor de energia Walter Fróes, que no ano passado instalou 36 painéis de silício sobre o telhado de sua casa, com investimento superior a 80 000 reais. Fróes está certo. Nos Estados Unidos – onde as baterias solares são mais baratas em efeito de um corte de cerca de 30% nos impostos na fabricação – a Powerwall fornece energia a 350 dólares por quilowatt hora. A PowerPack, a de empresas, custa 250 dólares por quilowatt hora. Ambas são bem mais caras que o sistema público, que custa cerca de 100 dólares por quilowatt hora. Isso sem contar com os ainda não acertados preços para instalar e ligar as baterias a painéis solares, o que demandará mais alguns milhares de dólares de investimento inicial.

Mas esse é só o começo. A Tesla acredita que os preços cairão drasticamente nos próximos anos, quando o aumento da demanda levar à produção em larga escala. Ao custo de 5 bilhões de dólares, a empresa planeja construir o que nomeou de “gigafábrica” no estado americano de Nevada, somente para fabricar mais da Powerwall e da PowerPack. Nos próximos três anos, a venda de baterias sustentáveis de íon-lítio, como as da Tesla, deve crescer exponencialmente. Calcula-se que o mercado mais que dobre a cada ano. Com isso, a Tesla espera diminuir o preço de seus produtos em ao menos 30% o mais rápido.

O LADO VERDE O que alimenta o setor hoje, porém, não é a economia no bolso. Mais que a conta na ponta do lápis, os compradores estão interessados no viés sustentável. Musk gosta de servir de exemplo. Ele instalou as Powerwall em sua casa para suprir dois terços da demanda energética e, assim, poluir o mínimo possível.

Em tempos de discussões em torno das problemáticas consequentes das mudanças climáticas que indiscutivelmente têm desbalanceado o planeta, cai bem aceitar pagar um pouco mais por um modo de vida em prol do meio ambiente. É a mania verde que impulsiona as vendas iniciais da Tesla, que já vê sucesso no lançamento. O estoque previsto para ser entregue no segundo semestre acabou na pré-venda, apenas nas compras feitas entre sábado e quarta-feira (dia 6). Foram 38 000 pedidos da bateria doméstica e 25 000 reservadas da comercial. A produção deve ter início no segundo semestre e as entregas começam em novembro.

A maior ambição de Musk, algo que ele já declarou ser uma meta de vida, é usar as baterias e carros elétricos para acabar de vez com a era do petróleo. Um norte que condiz com o que defende o Painel Internacional de Mudanças Climáticas (o IPCC), órgão da ONU: é preciso cortar entre 40% e 70% as emissões globais de gás carbônico (o CO2) até 2050, e em 100% até 2100, para assegurar um futuro suportável para a humanidade. Se isso não for feito, o planeta sofrerá com enchentes, poluição, um evento de extinção em massa de espécies de animais e plantas, e caos na produção agrícola. A Tesla pretende ser protagonista da necessária mudança – e, no processo, se tornar líder do bilionário mercado de energia limpa.

TECNOLOGIA O anúncio da Tesla ainda vem como boa notícia para a indústria de tecnologia, que passa por um momento de impasse justamente em consequência da falta de avanços substanciais na área de baterias. Especialistas estimam que a bateria de íon-lítio, aquela que carrega nossos celulares, computadores e tablets e que a Tesla agora vende individualmente, estão se aproximando de seu limite de capacidade.

A previsão é que elas só consigam ter seu limite ampliado em mais 30%, o que deve acontecer até 2020. Isso ocorre porque o potencial da bateria é limitado ao máximo de capacidade enérgica que seus materiais conseguem atingir. Em outras palavras, enquanto para aprimorar um chip de computador basta criar técnicas melhores de litografia – que aumentam a quantidade de informações processada em um espaço menor – , para uma bateria é necessário descobrir novas propriedades físicas e químicas de elementos da tabela periódica, que podem ser exploradas para construir módulos capazes de fornecer mais energia.

“Não é possível tirar um coelho da cartola”, disse ao site de VEJA o físico americano Jeff Dahn, chefe do laboratório de armazenamento de energia da Universidade Dalhousie. “Por isso que a melhor alternativa para evoluir é procurar por fontes energéticas mais abundantes e por elementos químicos capazes de captar maiores quantidades de energia.” Da segunda parte, já se pesquisa em laboratórios o uso de materiais como grafeno e alumínio para aumentar o máximo de armazenamento de baterias.

Frente ao desafio apontado por Jeff Dahn, as baterias da Tesla aparecem com um excelente balanço da equação básica que guia a produção desses dispositivos: “capacidade versus preço versus tamanho”. Musk chega quase ao limite da composição de íon-lítio para conseguir armazenar o máximo de energia solar em uma bateria do menor tamanho possível. Com isso, mostrou que ao menos pode ter a solução para um dos desafios do setor energético: achar uma fonte limpa, confiável e abundante. No caso, o Sol. Se toda a radiação solar que atinge a Terra em um único dia virasse eletricidade, seria possível sustentar o consumo da humanidade ao longo de 27 anos. Por que não fazemos isso? Faltam tecnologias baratas capazes de captar todo esse potencial. A Powerwall e a PowerPack da Tesla prometer indicar o caminho em direção a uma solução para essa questão. Em poucas palavras, o “Homem de Ferro” define sua ambição: “Vou mudar a forma como o mundo usa energia. Em escala extrema.”

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Fonte: Veja

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