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Grupos compartilham técnicas de transmissão do vírus da Aids

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Polícia já investiga o chamado “clube do carimbo”. “Carimbar” significa passar o vírus da Aids sem o conhecimento e permissão do parceiro.

Durante quase dois meses, o Fantástico investigou um tipo de crime assustador. Dá para acreditar que existe gente que transmite o vírus da Aids de propósito para os parceiros? Na gíria dessas pessoas, contaminar alguém é chamado de “carimbar”. Nossa equipe ficou frente a frente com dois homens que dizem fazer exatamente isso. A reportagem sobre o chamado “clube do carimbo” é de Augusto Medeiros e Rodrigo Vaz.

O homem mostrado no vídeo acima diz que tem o vírus da Aids.

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“Está bem controlado, tudo. Mas eu sei que eu tenho o HIV”, diz o homem.

É funcionário público e não sabe que a conversa está sendo gravada.

Homem: Eu não faço sexo com camisinha com ninguém. Não faço.
Fantástico: Mas aí você não fala que é HIV?
Homem: Não, não falo.

A polícia já investiga esse tipo de comportamento sexual. Grupos secretos usam as redes sociais para marcar encontros e espalhar o vírus de propósito. É o chamado “clube do carimbo”.

“Carimbar” é uma gíria usada por algumas pessoas portadoras do vírus da Aids e pode levar o carimbador para a cadeia. Significa passar o vírus da Aids sem o conhecimento e a permissão do parceiro.

“Evidentemente, há a prática do crime. Não há dúvida a respeito disso”, destaca Alamiro Velludo Netto, professor de Direito Penal da USP.

E a pena pode ser de 2 a 8 anos de cadeia.

“Lesão corporal grave. Grave porque há uma agressão à saúde que aparece por meio de uma enfermidade incurável”, destaca o professor de direito penal.

Em quase dois meses de investigação jornalística, o Fantástico esteve em lugares frequentados por pessoas que se declaram “carimbadores”. Também fizemos contato pela internet com homens que dizem transmitir a Aids de propósito. E para isso, criamos uma história. Sem nos identificar como jornalistas, simulamos interesse no assunto e assim, conseguimos entrar em grupos secretos nas redes sociais.

Primeiro, os carimbadores mandaram mensagens. Quem é portador do vírus também se identifica como “vitaminado”. Um deles disse que “ama” passar o HIV. Um outro revela que engana os parceiros tirando a camisinha, sem a pessoa perceber. Foi com esse carimbador que marcamos um encontro no Largo do Arouche, Centro de São Paulo. Ele diz que é professor de geografia e quem tem o vírus.

Fantástico: Já carimbou muita gente?
Professor: Isso.

Diz ainda que alguns parceiros pedem pra ele tirar o preservativo, achando que ele não tem a doença.

Professor: Tem gente que na hora que curte com camisinha. Depois pede para tirar.
Fantástico: Onde é mais comum a galera estar carimbando?
Professor: Na sauna.

Um rapaz, de 25 anos, luta contra a disseminação da Aids e o preconceito. Há sete anos, o então namorado dele não contou que estava doente.

“Ele sabia do diagnóstico dele, da serologia dele e acabou insistindo várias vezes: ‘vamos fazer sem camisinha’”, conta Diego Callisto, ativista de direitos humanos.

Diego contraiu o vírus, e recentemente, denunciou o clube do carimbo.

“Nós estamos falando de determinado recorte de soropositivos que adotam tal prática. Achei uma realidade muito estarrecedora porque eu vi pessoas soropositivas dentro do grupo e falando de ter relações sem camisinha: ‘ah, eu vou carimbar’. Nenhum momento falaram: ‘olha, eu sou soropositivo e eu quero transar sem camisinha’”, conta o ativista.

O psiquiatra Alexandre Saadeh da USP, especialista em sexualidade, afirma: “Entre os heterossexuais, também acontece essa contaminação deliberada”.

E quem comete um crime desse tipo pode ter transtorno de personalidade antissocial.

“Vai desde alguém que burla as regras, que não respeita o outro, que não sente culpa até chegar num criminoso. Alguém que deliberadamente contamina o outro com um vírus, com uma doença, não dá para dizer que não seja um criminoso”, diz o psiquiatra.

O funcionário público que mostramos no início da reportagem assumindo que é um carimbador, que transmite Aids de propósito contou que ele próprio foi contaminado porque quis.

Homem: Era tudo o que eu mais queria. Era ser soropositivo.
Fantástico: Por que você quis ser carimbado?
Homem: Pelo prazer que eu tinha de ser carimbado. Eu não sei te explicar.

O encontro com o funcionário público aconteceu em Campinas. Antes, a conversa tinha sido pela internet. Ele contou que tem Aids há 10 anos, e vive bem porque toma o coquetel de remédios. Depois, pessoalmente, deu mais detalhes.

Fantástico: Onde que você já carimbou? Os lugares?
Homem: Via de regra, é na minha casa.
Fantástico: Quantos você já carimbou?
Homem: Olha, eu vou ser sincero. Eu carimbei 1, 5, 10, não. Não foram. Foram muito mais.

Ele sabe que passar a doença de propósito dá cadeia.

“Você é contaminado e essa pessoa registra uma ocorrência falando: ‘foi o cara que me contaminou’. Isso é crime”, conta o homem.

Mas ele não se arrepende e até ri.

Fantástico: Depois você não fica pensando isso não?
Homem: Com drama de consciência? Não. Eu não. Na minha cabeça? Nem passa isso.

O Fantástico preservou a identidade dos dois homens que se dizem “carimbadores” porque eles, e pessoas próximas a eles, poderiam sofrer alguém tipo de represália. Mas, como se trata de um crime, encaminhamos as imagens originais e as informações para o Ministério Público do estado de São Paulo.

“É uma situação gravíssima. O Ministério Público vai identificar essas pessoas e consequentemente vai instaurar um procedimento investigatório criminal para apurar a conduta de cada um deles”, diz o Cássio Conserino, promotor de Justiça.

Um rapaz descobriu que contraiu o vírus há 5 meses. Ele tem certeza que foi vítima de um carimbador. “Eu queria entender por que que uma pessoa faz uma coisa dessas. Eu não sei se é prazer ou se é raiva”, conta o rapaz. No caso dele, o parceiro não contou que tinha a doença e a relação sexual foi sem camisinha. “Se eu tivesse usado, seria diferente a minha vida hoje”, lamenta o rapaz.

Segundo o Ministério da Saúde, entre 2009 e 2013, em média, por ano, 39 mil e 700 brasileiros contraíram o vírus.

“O que temos que fazer é sempre usar o preservativo. Existe também a profilaxia pós-exposição, que é – em 72 horas após a exposição ao risco pode-se buscar também o posto de saúde e buscar esse tratamento que evita a infecção”, destaca Georgiana Braga-Orillard, diretora do Unaids.

“A gente consegue viver com mais qualidade de vida. Porém, isso não é motivo para se banalizar a transmissão do HIV e achar que viver com Aids é tudo muito tranquilo, porque não é”, alerta o ativista Diego Callisto.

Deixe seu comentário abaixo.

Fonte: G1

 

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