O dólar opera novamente em alta nesta sexta-feira (24), renovando máximas históricas de cotação nominal (sem considerar a inflação), com a tensão política após o ministro da Justiça, Sérgio Moro, anunciar a demissão do cargo e sua saída do governo Bolsonaro.
Às 15h44, a moeda norte-americana era vendida a R$ 5,7389, em alta de 3,81%. Na máxima até o momento, chegou a R$ 5,7469 – novo recorde intradia. Veja mais cotações.
Já a Bovespa opera em forte queda nesta sexta-feira, chegando a recuar mais de 9%.
No ano de 2020, em meio a cenário de juros baixos – com expectativa de ainda mais cortes na Selic pelo Banco Central –, o dólar acumula alta de mais de 42%.
Na véspera, o dólar já havia disparado diante dos ruídos políticos e encerrou o dia em alta de 2,21%, a R$ 5,5285, novo recorde nominal de fechamento.
Atuação do Banco Central
Em meio à disparada do dólar, o Banco Central anunciou para esta sexta-feira leilões de linha de dólar e de contratos de swap cambial para rolagem de vencimentos em ambos os instrumentos.
Em dinheiro “novo”, o BC injetou no mercado, entre os dois instrumentos, um total de US$ 1,545 bilhão, destaca a Reuters. O BC colocou ainda todos os 10 mil contratos de swap cambial (US$ 500 milhões) em leilão de rolagem e US$ 700 milhões em operação para postergar o vencimento de linhas de moeda estrangeira (a oferta era de até US$ 3 bilhões).
Tensão política
Aliados do ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmaram que ele foi pego de surpresa com a publicação, no “Diário Oficial” desta sexta-feira (24), da exoneração do delegado Maurício Valeixo, agora ex-diretor-geral da Polícia Federal.
Ao anunciar sua saída do governo, Moro afirmou que disse para Bolsonaro que não se opunha à troca de comando na PF, desde que o presidente lhe apresentasse uma razão para isso. Ele disse ainda que o problema não é a troca em si, mas o motivo pelo qual Bolsonaro tomou a atitude. Segundo o agora ex-ministro, Bolsonaro quer “colher” informações dentro da PF, como relatórios de inteligência
O mercado reagiu negativamente por entender que o movimento indica mais tensões políticas dentro do governo e pode acabar piorando a avaliação do próprio presidente e colocando em xeque a governabilidade do presidente Jair Bolsonaro. Moro está entre os ministros mais bem avaliados pela população.
A saída conturbada de Moro do governo alimenta também preocupações sobre o futuro do ministro da Economia, Paulo Guedes, no governo.
“Sua saída [de Moro] representa a desconfiguração da “equipe de ouro” que incluía os chamados “super-ministros” da Justiça e também o da Economia, Paulo Guedes, o que enfraquece o já desgastado governo Bolsonaro. Isso porque tanto Guedes quanto Moro representavam a promessa de uma equipe ministerial técnica e o frágil equilíbrio das forças de sustentação que apoiam a conturbada liderança de Bolsonaro”, avaliou Ernani Reis, analista da Capital Research.
“Você tem a saída de um ministro que a opinião pública via como uma pessoa idônea de um jeito um pouco controverso. Há preocupação de que a pressão pode ser transferida para o Paulo Guedes, que já estava à parte do plano do governo para o pós-crise, e que você possa deixar para trás políticas mais ortodoxas que estavam sendo praticadas até então”, disse Flávio Serrano, esconomista-chefe do Haitong.
Tombo da atividade econômica
No noticiário econômico, pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou que a confiança da indústria brasileira deve registrar uma queda histórica em abril. A prévia da sondagem do setor indica recuo de 39,5 pontos, para 58,0 pontos. Caso esse resultado se confirme, essa será a maior queda mensal da história do indicador, com o índice alcançando o menor valor da série.
As contas externas do Brasil registraram déficit de US$ 15,242 bilhões no primeiro trimestre deste ano, com aumento de 1,32% na comparação com o mesmo período de 2019, informou o Banco Central nesta sexta-feira (24). Foi o maior rombo para o período desde 2015, ou seja, em cinco anos.
“A deterioração das contas públicas em decorrência da pandemia da Covid-19, associada à interminável crise, especialmente entre o Executivo e Legislativo, põe o Brasil nas cordas. O risco-país afugenta os investidores”, disse em nota Ricardo Gomes da Silva, da Correparti Corretora.
O mercado passou a estimar retração de 2,96% do PIB em 2020, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central, e diversos bancos e consultorias avaliam que o país corre o risco de enfrentar uma nova recessão. Já o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê queda de 5,3% do PIB do Brasil neste ano.