Marido diz que vítima teve soro negado na Santa Casa por ter plano de saúde. Médicos de 4 hospitais em Franca serão ouvidos; polícia investiga omissão.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) abriu uma sindicância em Franca (SP) para apurar se houve falha no atendimento prestado à advogada Maria José Alves de Almeida, de 68 anos, morta após ser picada por uma cobra. O marido dela, o juiz aposentado Nilton Messias de Almeida, afirma que a Santa Casa negou a aplicação do soro antiofídico porque a mulher tinha plano de saúde.
Os médicos dos quatro hospitais onde a paciente buscou auxílio serão ouvidos a partir da próxima semana.
A Polícia Civil investiga o caso por suspeita de omissão de socorro.
Em nota, a Santa Casa alegou que a mulher deveria ter procurado atendimento na Santa Casa de Patrocínio Paulista (SP), instituição mais próxima ao local onde aconteceu o ataque da cobra.
Investigação
A advogada foi atacada pela cobra no dia 26 de outubro, quando seguia para a capela da fazenda da família, em Patrocínio Paulista. O marido buscou atendimento na Santa Casa de Franca, após ser orientado pelo médico da família de que a instituição poderia aplicar o soro antiofídico.
Segundo o aposentado, ao chegarem ao hospital, a enfermeira-chefe informou que a advogada não poderia ser atendida na unidade por causa do convênio particular. “Eu ponderei que a vacina era de graça e não dependia de convênio médico. Ela respondeu que eles mandariam a vacina para o Hospital do Coração gratuitamente”, afirma.
O casal seguiu para o Hospital do Coração e recebeu a informação de que a unidade não tinha o soro para a aplicação e que a Santa Casa não havia encaminhado nenhuma vacina. De acordo com Almeida, o médico que os atendeu disse que Maria José poderia ser atendida no pronto-socorro municipal.
Na terceira tentativa de receber o soro, Maria José foi encaminhada do pronto-socorro para a Santa Casa, onde buscaram o primeiro atendimento. De acordo com Almeida, na segunda passagem pelo hospital, ele recebeu uma informação diferente. “Da primeira vez ela alegou que não aplicava o soro porque nós tínhamos convênio médico. Quando nós voltamos ao hospital deu-se uma nova versão, que ela não foi recebida porque não havia vaga”, afirma.
Após três horas de busca por atendimento, a vítima recebeu o soro na Santa Casa, mas não respondeu ao tratamento. Em coma, Maria José foi levada ao Hospital Regional, e não resistiu.
Nesta quinta-feira (10), o delegado regional do Cremesp, Ulisses Minigucci, disse que os médicos da Santa Casa, do Hospital do Coração, do pronto-socorro e do Hospital Regional serão ouvidos para apontar se houve falha no atendimento.
“Existe um protocolo para fornecimento do soro e existe o protocolo de atendimento. Eu ainda não tenho nenhum dado que me prove que existia o soro na Santa Casa. O que se espera é que existisse esse soro. Mas, se tivesse o soro lá, evidentemente, que lá deveria ter sido aplicado. A princípio, não haveria razão para uma transferência”, afirma Minigucci.
Caso a sindicância aponte que houve uma infração médica, o profissional deverá responder a um processo.
Segundo o delegado Luiz Carlos da Silva, o inquérito policial deve ser concluído em 30 dias.
Santa Casa está habilitada a aplicar soro
Procurada, a Santa Casa de Franca informou que a advogada deveria ter buscado atendimento na Santa Casa de Patrocínio Paulista, por questões de localização, e que o marido da vítima foi orientado a buscar o Hospital do Coração para que fosse ministrado o soro antiofídico, em função de melhores condições operacionais naquele momento.
A Secretaria Municipal de Saúde informou que apenas a Santa Casa está habilitada a aplicar o soro contra o veneno de cobra em Franca.
Fonte: G1