Brasileiro que luta com separatistas diz que a hasteou com 2 companheiros. Rafael Lusvarghi conta que ganhou bandeira de black bloc no ano passado.
Uma bandeira do Brasil foi hasteada em um prédio parcialmente destruído no leste da Ucrânia, região sob conflito entre o governo e rebeldes que querem a independência da região. Um vídeo da bandeira hasteada no edifício foi compartilhado nesta semana pelo brasileiro Rafael Marques Lusvarghi em seu perfil no Facebook. Rafael, que desde setembro do ano passado luta na guerra da Ucrânia, diz ter erguido a bandeira no local. Assista ao vídeo.
Rafael combate ao lado de outros estrangeiros, inclusive mais brasileiros, junto ao exército dos rebeldes que lutam pela separação do leste ucraniano. Eles ficam alojados em um quartel de Slaviansk, cidade a 100km de Donetsk, uma das cidades reduto dos separatistas e palco de combates com o exército ucraniano.
“Um francês, um russo e eu hasteamos a bandeira brasileira. Fomos até o prédio dos bombeiros (as ruínas dele), a 600 metros das posições ucranianas, do outro lado da pista. Subi e, enquanto a posicionava, eles me deram cobertura”, relatou ao G1 pela rede social.
A bandeira havia sido presente de um black bloc, durante as manifestações contra a Copa do Mundo em São Paulo. “Recebi [a bandeira] de presente de um black bloc, no segundo dia de protestos contra a Copa, por ter confrontado a PM no dia 12 [de junho] – foi o protesto em que depredaram os bancos e uma loja de carro em São Paulo, um dia antes da minha detenção. Essa bandeira ele tinha arrancado de um banco e iria queimar, imagino, mas ao me ver e reconhecer, me ofereceu de presente. Ele sendo black bloc, claro, não sei quem é, mas sou grato”, diz.
Rafael, que é ex-policial militar, ficou 45 dias preso em São Paulo, acusado de atos violentos durante a Copa do Mundo. A Justiça de São Paulo o absolveu na semana passada das acusações de incitação ao crime, associação criminosa, resistência, desobediência e porte de material explosivo. A decisão cabe recurso.
Rafael explica por que decidiu expor a bandeira brasileira na área de confronto da Ucrânia: “para nos apresentarmos ao inimigo, para saberem quem eram seus adversários. Uma questão de cavalheirismo e, claro, uma homenagem ao Brasil, meu país, que amo muito”. O combatente deixa claro que o ato não busca o envolvimento político do país. “Isso não implica de forma alguma em um envolvimento do nosso país. É uma dedicatória, da mesma forma que um atleta olímpico carrega a bandeira da sua nação”.
Desde o início da guerra na Ucrânia, abril de 2014, mais de 6 mil pessoas morreram no leste do país, de acordo com a ONU. A Ucrânia e outros países do Ocidente acusam a Rússia de enviar tropas e apoio aos rebeldes, o que o presidente russo, Vladimir Putin, nega.
A região está sob cessar-fogo, mas confrontos ocasionais tiram vidas dos dois lados quase diariamente perto da região de Donetsk, dominada pelos rebeldes. Monitores internacionais dizem temer uma escalada no combate.
Voluntários
O grupo de combate comandado por Rafael conta com voluntários estrangeiros: 5 brasileiros, um espanhol, 3 franceses e um norte-americano. Ele faz parte do Exército Regular da República Popular de Donetsk – autoproclamada pelos rebeldes após uma consulta pública à população local que foi considerada ilegítima pelas autoridades em Kiev e pela maioria da comunidade internacional. É o governo da região que oferece documentação, atendimento médico, alimentação e alojamento. Outros 12 brasileiros já passaram pelo grupo.
Em maio, Rafael postou outro vídeo em que ele e mais dois brasileiros explicam como os voluntários devem fazer para chegar até eles. Segundo ensinam, primeiro é preciso desembarcar em Moscou, onde haverá uma pessoa esperando os “recrutas”. De lá, pega-se um trem até a cidade de Rostov, na fronteira entre Rússia e Ucrânia. De Rostov, os voluntários seguem para Donetsk de ônibus. Os que não sabem falar inglês terão a ajuda de um tradutor, segundo contam.
Recebo muitas mensagens de brasileiros querendo se alistar, mas eu encerrei de vez o voluntariado na minha unidade. Meus melhores homens estão indo lutar na Síria em breve, e isso cria dificuldades porque perco membros que já falam o russo bem, e especialistas, então estou substituindo quem sai por russos locais”, conta.
Funções do grupo
A principal tarefa do grupo é observar a movimentação do exército ucraniano e reportar ao comando do batalhão. Mas o brasileiro conta que às vezes acaba exercendo a função de atirador de precisão ou de suporte, e que gosta de se arriscar em outros serviços, como defesa em caso de avanço das tropas ucranianas, “pelo moral que isso gera entre os outros militares”.
“Esta semana mesmo explodimos uma torre de transmissão inimiga que também trazia eletricidade para nós. Foi engraçado, muitos ficaram furiosos comigo. Foi de iniciativa própria minha”, conta. “Mas no fim eles perderam a torre e já temos eletricidade de novo. Um blackoutzinho não faz mal a ninguém, não é mesmo?”.
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Fonte: G1