Não me arrependo da cirurgia, mas de ter feito com o médico que fiz
Eu tinha 20 anos, estava no segundo ano da faculdade de fisioterapia e vivia rodeada de amigos! Mesmo levando uma vida agitada, nunca lidei bem com a minha obesidade. Pesava 120 quilos, mas passava a imagem de que estava superbem resolvida com meu corpo. Por muito tempo fiz a linha gorda-engraçadona, mas só eu sei quantas noites chorei pelas piadas que protagonizei. Carregar um corpo imenso acabava com a minha autoestima. Nunca me perdoei por ser uma menina gorda.
Comecei a sonhar com uma bariátrica quando tinha apenas 15 anos. Claro que meus pais vetaram a ideia, eu era muito nova. Mas com o passar dos anos eles viram minha luta contra a balança e acompanharam as dietas mirabolantes que tentei sem sucesso. Então, quando fiz 20 anos, papai e mamãe toparam pagar o procedimento e desembolsaram toda a grana para que eu ficasse linda e magra!
Não via a hora de ficar magra e me amar!
Perdi 40 quilos em um mês e meio
Quando optei pela bariátrica sabia o que estava fazendo. Tinha clara noção de que a rotina depois da operação não seria fácil, enfrentaria meses de alimentação restritiva. Eu estava disposta a isso, mal podia esperar para vestir um biquíni sem me sentir uma baleia na piscina. Já tinha me imaginado em roupas lindas, daquelas que só ficam bonitas em magras, como um shorts bem curtinho ou um vestido colado! Mas, acima de tudo, eu encarei a cirurgia como uma chance de amar, pela primeira vez, a mulher que via no espelho. O que eu nunca poderia ter previsto é que estava a caminho de uma experiência de quase morte.
Fiz a operação em setembro de 2014 e correu tudo bem. Em dois dias eu já estava em casa. Conforme mandava o protocolo, usei uma meia calça especial para não ter trombose. Também comi nos horários certos e em quantidades exatas, fiz tudo direitinho. Um mês e meio se passou e eu já tinha eliminado 40 quilos, estava superfeliz! Via meu corpo diminuir a cada dia e comecei uma história de amor com a minha silhueta. Mas nosso romance foi interrompido bruscamente.
Vivi uma experiência de quase morte
Em novembro, dois meses depois de operar, comecei a ter fortes dores no ouvido, era uma infecção pesada. Meu rosto ficou irreconhecível de tão inchado, parecia o personagem Fofão! Como se não bastasse a cirurgia tirando meu apetite, o tamanho do meu rosto não me permitia comer de jeito nenhum. Fui ao hospital diversas vezes. Sem muitos exames, eles só injetavam remédio na minha veia e me mandavam para casa. Depois de muitas visitas ao pronto-socorro, as dores melhoraram, mas perdi boa parte da audição. Só que problemas piores ainda estavam por vir.
Já era final de 2014 e minhas pernas começaram a se mexer sozinhas. Foi desesperador, parecia que estavam possuídas, fora a dor! Os músculos atrofiavam com muita força, como se alguém estivesse puxando. Voei para o hospital na mesma hora, em vão. Mesmo chorando de dor, fui colocada no soro e nenhum médico quis se arriscar a diagnosticar minha situação. Parecia que todos tinham medo de mexer no procedimento iniciado por outro doutor, já que ele nunca estava por lá. Perdi as contas de quantas vezes bati cartão ali, sofrendo de dor, e voltei para casa sem saber o que tinha.
A cirurgia me fez parar de andar
O pesadelo começou mesmo quando levantei uma noite para buscar água. No meio do caminho não consegui mais sentir minhas pernas. Caí no chão na hora, inconsciente, como se tivessem desligado meu sistema central. Abri os olhos e já estava no pior lugar do hospital: o Centro de Terapia Intensiva (CTI). Não lembro de nada entre o desmaio e a cama! Não desejo a ninguém o que passei ali. As dores eram tão intensas, por todo meu corpo, que quando via uma enfermeira implorava aos berros por uma injeção para morrer. Eu sequer sabia o que tinha, só queria acabar com tanta dor. Esse martírio durou nove dias, entre 19 e 28 de dezembro de 2014. Não sei o que é andar desde então: minhas pernas atrofiaram e eu perdi os movimentos delas.
Passei o ano de 2015 entre idas e vindas de internações, sem andar e sem saber o que eu tinha. Cheguei a ficar 20 dias sem comer, molhando algodões com água para passar nos lábios e não morrer desidratada. Meu corpo rejeitava tudo que eu ingeria na hora, porque apertaram demais os grampos na operação. Tanto que em março deste ano precisei dilatá-lo por endoscopia para poder me alimentar minimamente. Já nas últimas internações, tive uma explicação: tudo foi causado por falta de vitamina B12 e um problema foi puxando o outro. A questão é que ninguém tinha me dito que eu precisaria repor essa vitamina em algum momento.
Ainda tenho muita vida pela frente, só tenho a agradecer
Quando finalmente tive alta, em março deste ano, voltei para casa com a esperança de caminhar novamente. Faço fisioterapia três vezes na semana e vejo alguma evolução, devagar e sempre. Tenho uma cadeira de rodas temporária que é própria para o banho. Minha família me ajuda muito, pois nem no banheiro consigo ir sozinha por enquanto. Meus amigos me dão muita força também, vivem aqui em casa. E é bom que ele venham – não sinto a menor vontade de meter a cara nas ruas nesse estado.
Sinto que tive que passar por isso, creio que nada é em vão. Não me arrependo de ter feito a bariátrica, me arrependo de ter escolhido esse médico. Essa experiência, embora trágica, me fez crescer, me ensinou muito sobre a vida. Se você está passando por um momento ruim, redimensione. Por mais difícil que seja, saiba que tem gente vivendo dramas maiores. Então, apesar das circunstâncias, agradeça sempre! Hoje dou muito valor à minha família e saúde. Sem essas duas coisas eu não seria nada. Meu sonho é voltar a ser a menina alegre que eu era, agora vestindo 36. Tenho muita fé, sei que vou chegar lá. Afinal, ainda tenho muita vida para sambar!
Fonte: Uol