BRASÍLIA – Fontes do governo brasileiro revelaram que o Brasil está buscando uma solução pacífica para a crescente controvérsia territorial entre Venezuela e Guiana. O país reitera seu compromisso com a consolidação de uma Zona de Paz e Cooperação entre os Estados americanos, buscando preservar a estabilidade na região.
Mesmo com a escalada das tensões, o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) tem tratado a questão de maneira reservada, envolvendo-se em discussões discretas com as partes envolvidas e outros atores regionais. O objetivo é evitar que o debate público intensifique ainda mais a situação já delicada.
O clima entre os dois países em disputa, Venezuela e Guiana, está tenso. Nas redes sociais, o líder venezuelano, Nicolás Maduro, enfrentando pressões internacionais para participar de eleições livres, tem feito publicações em defesa da incorporação de parte do território guianense, especialmente a região rica em recursos como petróleo, conhecida como Guiana Essequiba.
A situação na América do Sul ganha destaque na Corte Internacional de Justiça (CIJ), que recentemente se reuniu em Haia, Holanda, para ouvir as representações das duas nações. O agente guianense, Carl B. Greenidge, repudiou o referendo marcado pela Venezuela para 3 de dezembro de 2023, acusando-o de ser projetado para obter um apoio popular esmagador e minar a autoridade da CIJ. Em resposta, a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, acusou a Guiana de “colonialismo judicial” por recorrer ao tribunal internacional.
O referendo convocado por Maduro, segundo análise do professor Alcides Cunha Costa Vaz, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), tem alta probabilidade de ser aprovado, unindo a população em torno da demanda histórica da Venezuela.
A questão não é apenas jurídica, mas também geopolítica, com potenciais impactos em uma escala mais ampla. Há o receio de que a disputa entre Venezuela e Guiana possa gerar uma situação semelhante ao conflito entre Rússia e Ucrânia, mas desta vez na América do Sul.
Os Estados Unidos demonstram forte apoio à Guiana, visando proteger seus interesses comerciais, especialmente nas áreas de exploração de petróleo. Do lado venezuelano, a Rússia, principal fornecedor de armamento, observa a região com interesse, considerando as consideráveis reservas de petróleo.
Apesar de o Brasil não estar diretamente envolvido na disputa territorial, analistas políticos alertam que a situação pode exigir um posicionamento mais contundente do Itamaraty. A preocupação é que a escalada das tensões afete regiões próximas e a política interna brasileira, especialmente após a entrada de venezuelanos via Roraima.
O Brasil, historicamente, busca promover a paz e cooperação na região do Atlântico Sul. A atual crise representa um desafio para a diplomacia brasileira, que busca, além de reforçar o compromisso com a Zona de Paz e Cooperação, alertar sobre possíveis impactos negativos nas negociações econômicas entre Venezuela e Estados Unidos, caso a anexação se concretize.
Diante desse cenário complexo, o Brasil enfrenta o dilema de manter a estabilidade regional, preservando seus interesses e contribuindo para uma solução pacífica no conflito entre Venezuela e Guiana.