Técnico revela conversa com Marcelo e Filipe Luís antes de definição no lado esquerdo e admite não saber se o melhor do Brasil pode bater os belgas; Fernandinho entra no meio.
A lisson, Fagner, Thiago Silva, Miranda e Marcelo; Fernandinho; Paulinho, Coutinho, Willian e Neymar; Gabriel Jesus. É com essa formação que o Brasil vai enfrentar a Bélgica, nas quartas de final da Copa do Mundo, nesta sexta-feira, em Kazan. Tite confirmou a volta do lateral-esquerdo do Real Madrid, recuperado de um espasmo na coluna, mesmo depois das ótimas atuações de Filipe Luís contra Sérvia – entrou aos 10 minutos de jogo – e México.
– Conversei com o Marcelo e o Filipe Luís. O Marcelo saiu por um problema clínico e não voltou no jogo seguinte por um problema físico, só poderia jogar de 45 a 60 minutos. O Filipe Luís jogou muito nos dois jogos, competem os dois, deixam a cabeça do homem um trevo. E por critério volta o Marcelo – afirmou o técnico, que também confirmou a entrada de Fernandinho no lugar do suspenso Casemiro.
Melhor ataque da Copa do Mundo de 2018, com 12 gols, a Bélgica entrou no caminho do Brasil depois de uma vitória explosiva de virada sobre o Japão com um gol no lance final do confronto.
A campanha de 100% de aproveitamento até agora na Rússia faz a comissão técnica brasileira ligar o alerta, e Tite acredita num grande jogo nesta sexta-feira.
– O poder criativo da Bélgica é muito forte, a qualidade, vai ser um grande jogo. São duas equipes que primam por um futebol bonito, cada um com suas características. A Bélgica tem valores individuais de qualidade, um grande técnico, uma grande campanha. Vai ser um grande jogo.
– A característica dos atletas empresta à equipe essa criatividade, esse repertório de jogadas que possam fazer gol. Ela foi de jogada construída o primeiro gol contra o México, saímos jogando, com iniciação, transição e gol. Sem o adversário tocar na bola. Tem um contra-ataque muito forte com pressão baixa, velocidade dos jogadores para sair em transição rápida. Tem uma característica marcante, no último terço do campo, tem muito drible. Os jogadores, Douglas, Neymar, Gabriel Jesus, Taison, Coutinho, Willian, todos eles têm característica marcante. O técnico trabalha para organizar sem bola, a construção e parte média, para no último terço termos essas diferentes formas e incentivar o drible, a finta, a magia. Para podermos fazer gol.
– Não sei, não tenho a referência total do que o adversário pode ter. O que eu busco, enquanto ideia, e desafio aos atletas, e me desafio, é manter e crescer. Manter e crescer. Ficar com a sensação de ter feito o teu máximo, se vai ser superior ao outro é uma situação do jogo. Às vezes havia jogos que eu vencia, era escolhido como um dos destaques da partida, e ia dormir pensando: não, eu jogo mais do que isso. E eles sabem disso, essa autocrítica do desempenho máximo, isso eu quero. Nos dois últimos jogos, todos os atletas que entraram em campo jogaram bem, isso fortalece a equipe. Mas não dá para medir se é suficiente para vencer porque tem um outro lado com qualidade também.
- Brasil sem pênaltis
– Pênalti é uma circunstância do jogo. Teve pênalti que aconteceu, outros que não aconteceram. É um processo de adaptação e evolução com uma ideia correta justa que é premiar, não ter erro grave, se a bola entrou, se foi fora da área. O aspecto tecnológico é uma evolução para mim, independentemente de algum ajuste que possa ter.
- Jesus x Firmino
– O jogo vai se desenhando e as circunstâncias conforme o jogo. A versatilidade do Gabriel nos permitiu ajustar a equipe, e todos os atletas têm sido decisivos. O Firmino é dessa forma. Depois do jogo contra a Sérvia, quando nos classificamos, tenho o hábito de abraçar cada um e não falo muito porque vestiário não é hora. Abracei Firmino e disse que ele merecia ter entrado, mas técnico tem que saber ler a necessidade do jogo. Ele disse: ‘Professor, estou feliz pra caramba’. Há atletas com características diferentes e importâncias iguais, que em algum momento possam jogar.
- Passagem pela Arábia
– Oportunidade de ser grato a Al-Ain, Al-Wahda, principalmente ter feito uma temporada inteira e exercitado jogar com duas linhas de quatro e dois atacantes. Flutuações, compactação, desenvolvi minha parte teórica no Al-Ain. Tenho uma gratidão muito grande ao xeque que era diretor máximo, foi muito importante em conhecimento, operacionalizar ideias, conhecer outra cultura, estabelecer ideias em outra língua, ter um tradutor. Me desafiou, me fortaleceu. Sou bastante grato.
- Neymar
– Não preciso ser muito capacitado para saber que Neymar teria seu desenvolvimento, acompanhamos o trabalho dele, o Ricardo (Rosa) e o Rafael (Martini) acompanharam muito, o doutor com as lesões. Os momentos que ele se privou para investir nessa evolução. Eu sabia pela experiência de atleta que uma sequência de jogos daria a ele. Seria uma situação natural, e ele foi mais rápido porque é um jogador de excelência.
- Paulinho joga?
– Paulinho menos condição física, saiu no último jogo porque tomou pancada e estava com dificuldade de movimentação. Para quem tem as opções que tem a seleção brasileira, Fernandinho agora vai jogar. Sendo específico nas possibilidades, Marquinhos pode jogar como primeiro meio-campista, já jogou assim comigo. Seu primeiro jogo no profissional foi contra o Palmeiras, como volante. Ele tem as ferramentas para jogar ali.
- Capacidade mental
– Conversei com profissionais por quem eu tinha admiração, um deles foi Carlos Bianchi. Ele disse que uma virtude de grande equipe era ser mentalmente forte e ter equilíbrio. Aquilo ficou marcado. Ele exemplificou situações. Digo isso para termos bom senso. Nem euforia nem medo de perder. O discernimento é muito difícil, mas saber por que ganha, por que tem bom desempenho individual ou coletivo. Há duas semanas eu falei para os atletas acreditarem na forma intensa de treinar. Quem entrou em campo e em algum momento ouviu falar que faltou ritmo? Nenhum. Então continuem com essa rotação porque precisamos da equipe toda. No aspecto mental, e estou sentindo agora: se me perguntarem o maior desafio de um Mundial, direi que a capacidade mental. As pressões são impressionantes, extraordinárias, e proliferam para a família toda.
- Mais calmo
– É um desafio diário que tenho para comigo mesmo, de equilíbrio e discernimento. Enquanto pessoa, técnico, comissão. Eu me elaboro, me preparo. No primeiro jogo era a primeira vez. E na primeira vez tu não… (risos). Nem eu nem vocês se esquecem. Não tem. Aquilo a milhão. Eu estava pensando por que eu, de alguma forma, fiquei um pouco mais à vontade? Porque o desempenho dos atletas aconteceu, aí me gera segurança.
- Contribuição do Paraná
– Devemos estar preparados, pode haver surpresa sim. Obrigado ao Coritiba e ao Atlético-PR por ter nos proporcionado a comissão técnica para acompanhar a Bélgica.
- Participação de Neymar
– Eu já me manifestei a respeito de Neymar, e de forma bastante específica sobre os acontecimentos dele. Que olhem os vídeos e acompanhem. O que me interessa é ele estar em altíssimo nível de novo, e mais do que isso. Não é só com bola e em dribles, há ações de transições defensivas, vocês verão como ele tem participado em termos coletivos. Retomada de posse de bola, ocupação de espaços, até desarme, que não é a característica, e nem quero que atacante desarme, mas o senso de equipe que ele vem desenvolvendo.
- Disputa por pênaltis
– Batida de pênalti é o cão. Para mim, técnico, jogo de futebol não poderia terminar em penalidades maximas. Não vejo ali um atributo que te credencia. Encontrar outra forma, sugere, não sei. Também não sei. A gente treina sim, porque a batida de pênalti é uma técnica desenvolvida de batida associada ao controle emocional. Contar uma história. Coloquei o Moraes para bater um pênalti em uma disputa contra o Palmeiras. Falei para o Danilo bater, mas ele disse que não, então o Moraes foi o quinto. Na segunda-feira, ele falou para mim: “Professor, quando você disse para mim, eu pensei não é possível. Lembrei de Vasco x Flamengo, eu atravessando o Maracanã e errando”. Respondi: Por que não me avisou. Te tirava logo, nem ficava para bater.” É um peso muito grande. Poderia ser de outra forma.
– Temos de ter as duas formas dominadas, não dá para ter uma só.