DA REDAÇÃO – A Guiana manifestou, nesta sexta-feira (20), um forte protesto contra a construção de uma ponte militar pela Venezuela, que liga o território venezuelano de San Martín de Turumbán à ilha fluvial de Anacoco, localizada na região de Essequibo — um território de 160.000 km² rico em petróleo e minerais, que está em disputa entre os dois países há mais de um século.
A ponte, inaugurada pela Venezuela no dia anterior, foi construída sobre o rio Cuyuní, que separa o território venezuelano da região contestada, e conecta diretamente a ilha de Anacoco à parte continental da Venezuela, onde está instalada uma base militar das Forças Armadas Venezuelanas (FANB). As autoridades venezuelanas, ao inaugurarem a estrutura, reafirmaram sua “soberania” sobre o Essequibo, um território que a Guiana administra, mas que é reivindicado pela Venezuela com base em alegações históricas que remontam à época colonial.
Em um comunicado oficial, o Ministério das Relações Exteriores da Guiana condenou a construção da ponte e destacou que a obra foi realizada em uma área sob disputa territorial, especificamente sobre a parte da ilha de Anacoco que, segundo o país, é de sua soberania. A Guiana convocou o embaixador venezuelano Carlos Pérez para registrar sua queixa formal. “A Guiana protestou pela finalização de uma ponte construída pelas Forças Armadas venezuelanas, ligando o território venezuelano à ilha de Anacoco, onde se encontra uma base militar da Venezuela”, diz o comunicado.
A disputa sobre o Essequibo tem raízes profundas e remonta ao século XIX, quando a Venezuela questionou os limites definidos por um tratado de 1899, que estabeleceu as fronteiras entre a Guiana Britânica (atual Guiana) e a Venezuela. A controvérsia se intensificou com a descoberta de vastos campos de petróleo e gás na região, especialmente após 2015, quando a Guiana começou a licitar blocos de petróleo em águas disputadas, o que gerou uma resposta firme de Caracas.
A recente escalada ocorreu em um contexto de crescente tensão. Em 2023, a Venezuela convocou um referendo para reafirmar sua soberania sobre o Essequibo, o que aumentou as preocupações sobre um possível conflito armado. Além disso, em uma tentativa de fortalecer sua presença na região, o governo venezuelano tem investido na melhoria de sua infraestrutura militar na ilha de Anacoco, incluindo a construção de novos equipamentos e instalações, como escolas e ambulatórios, conforme anunciou o ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padrino López, em um vídeo nas redes sociais.
A situação também gerou uma reação jurídica. Em 2018, a Guiana recorreu à Corte Internacional de Justiça (CIJ) para ratificar um laudo de 1899 que definiu as fronteiras atuais, mas a Venezuela rejeita essa decisão, amparando-se no Acordo de Genebra de 1966, que estabelece as bases para uma negociação futura sobre a questão territorial.