Prestes a celebrar Bodas de Vinho, João e Maria dão dicas a novos casais. Idosos de Campinas têm 6 filhos, 22 netos,12 bisnetos e 4 tataranetos.
Cento e um anos de idade. Sete décadas de casados. O segredo, um só: paciência. Para o senhor João Vicente, batizado João do Espírito Santo, a tolerância é a receita da longevidade e da vida a dois tão duradoura. “Temos que suportar as falhas”, resume o aposentado, que vive em Campinas (SP) com a mulher, Maria Marta Monteiro Vicente, 87, há 43 anos. O casal tem seis filhos, 22 netos, 12 bisnetos e quatro tataranetos.
“Eu estou vivo!”, costuma dizer todos os dias em forma de agradecimento. Completou 101 anos na última sexta-feira (4) e está prestes a celebrar as chamadas Bodas de Vinho, de 70 anos de união com a mesmo mulher. “Sou paciente, dispenso muita coisa. Eu gosto de cumprir o que prometi no altar”, gaba-se João.
Ele lembra de quase nada da infância, apenas as memórias relacionados à juventude na paróquia do Padre Cícero, responsável pelo batismo, e a fuga da Paraíba para tentar a vida, sozinho, e ser soldado da borracha em Rondônia.
Foi em Guajará Mirim (RO), em 1944, que o casal se conheceu. Não houve paquera. Por intermédio do irmão e sem a benção da mãe, Maria Marta se casou no ano seguinte com João, na época, 15 anos mais velho que ela. “Ele foi até a minha casa, meu irmão disse a ele que naquele dia eu estava completando 18 anos. Eu estudava em um colégio de freira, ficava em um internato e não tinha a intenção de namorar”, conta Dona Maria.
“Fui rápido”
Em 1945, João era policial e, por isso, a mãe de Maria Marta não apoiava o casamento. Mas um dia o convite para sair foi aceito. “E antigamente era assim: saiu junto, já tinha que casar”, afirma a aposentada.
“Eu fui rápido, não podia demorar para casar, e ela estava de férias do internato, tinha que casar antes de ela querer voltar para lá”, conta João. O casamento foi simples, na igreja do bairro, sem a presença da mãe de Maria Marta e sem registros. “Naquele tempo não tinha essas coisas de fotos ou álbuns”, diz Maria.
Logo após o casamento, a lembrança mais marcante de João foi o parto que ele realizou do último filho. “Não tinha tempo de levá-la para o hospital, o filho ia nascer alí mesmo. Então, ela foi me dando as coordenadas e eu fiz o parto. Cortei o umbigo, amarrei, tudo o que ela disse, eu fiz, certinho”, conta João. A mãe de Maria Marta era parteira, por isso, ela sabia orientar na hora do parto.
“Vivo e com saúde”
Das recentes lembranças, João se recorda da internação de Maria Marta no início deste ano. Aaposentada é cardíaca e passou cerca de um mês e meio no hospital. “Ele ia me visitar todos os dias, pegava na minha mão, que estava inchada, e pedia a Deus para cuidar de mim e me deixar com saúde”, diz Maria Marta.
Os filhos do casal dizem ouvir do pai que ele tem apenas “problemas de velhice”, e garantem que, como João nunca fez uso de álcool ou de cigarro, ele mantém uma boa saúde. “Ele tem apenas as doenças relacionadas à idade”, afirma uma das filhas, Sandra Maria Vicente Wolffi.
Para manter a mente e corpo com saúde, João gosta de contar as histórias da infância, as poucas que ele se lembra. Não gosta de ouvir música, mas adora ver televisão. “Eu torço pelo São Paulo, então, não importa o dia e o horário do jogo, eu vou assistir”, afirma.
“Paciência e compreensão”
João garante que evita brigas, que é paciente e que cuida da esposa. “O segredo é cumprir o que eu prometi no altar”, diz o aposentado. E Maria Marta faz o mesmo. Segundo Jorge Vicente, um dos filhos do casal, sempre um se preocupou com o outro. “Ainda mais agora com a mamãe doente, a preocupação é ainda maior, os dois tomam remédio, ai um sempre pergunta aos filhos se o outro já foi medicado, se já comeu…”, diz Vicente.
“Eles fazem de tudo para não brigar, serem bons um com o outro e cumprir a promessa do casamento”, completa Vicente. Os filhos disseram que o pai costumava dizer um ditado popular nordestino que diz “quem comeu a carne, que roa os ossos”, portanto, fazem tudo para ficarem juntos até o fim.
O casal não consegue definir o que é o amor. O afeto cresceu um pelo outro conforme os anos foram passando. A demonstração de carinho e cuidado definem o sentimento. “Eu gosto muito dela, amor puro, desejo tudo de bom para ela, principalmente saúde”, diz João. EMaria Marta completa, “eu desejo que ele tenha saúde e volte a andar direitinho e bem”.
“Em um dos aniversário da mamãe, nós preparamos uma homenagem e, como ele não fala muito, deixamos ele de lado. Ele reclamou e disse: ‘eu não vou falar não?!’, e pegou o microfone e fez a declaração mais bonita de todas, nós ficamos emocionados”, conta uma outra filha, Rosália Vicente.
Assim como em todos os anos, desde que estão juntos, o primeiro pedaço do bolo de aniversário de João será para Maria Marta. “Eu gosto disso, porque mostra carinho”, conta a aposentada. “Eles ficam muito tempo sem se beijar, então, nessas datas, dão um selinho e parecem uns passarinhos, ficam muitos felizes”, conta Rosálea.
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Fonte: G1