Maria Ysabelle e Maria Ysadora, de 2 anos, nasceram unidas pelo topo das cabeças. Caso inédito no país mobilizou equipe formada por especialistas brasileiros e norte-americanos.
Ao experimentarem a sensação de pegar as filhas no colo, separadas definitivamente após cinco cirurgias complexas, os pais das gêmeas Maria Ysabelle e Maria Ysadora, de 2 anos, afirmam que a esperança de ver as meninas como crianças normais superou qualquer sofrimento que tenham vivido desde o nascimento delas.
“Em nenhum momento ele desistiu delas e nem eu. Nós não olhamos para trás, nós estamos aqui graças a Deus. Não há luta sem vitória”, diz a mãe, Débora de Freitas, ao lado do marido, Diego de Freitas.
Na madrugada de domingo (27), a equipe médica do Hospital das Clínicas (HC) de Ribeirão Preto (SP) concluiu a última etapa de procedimentos, que mobilizou ajuda internacional. A cirurgia durou 20 horas e a recuperação das irmãs é tão animadora que surpreende até os médicos.
“Não esperávamos que em um tempo tão curto elas pudessem estar no colo dos pais e tem um aspecto muito interessante, porque elas estão completamente alertas, olhando para os pais, interagindo. Para nós, do ponto de vista neurológico, mostra que as perspectivas são muito boas. Estamos muito animados”, diz o chefe da equipe, Hélio Rubens Machado.
Embora estejam internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Pediátrica, as irmãs já respiram sem a ajuda de aparelhos. A previsão é que elas fiquem no setor por duas semanas. Nesta quarta-feira (31), o HC divulgou a primeira imagem das meninas no colo dos pais.
“Eu peguei [primeiro] a Ysabelle e eu senti uma emoção. Parece que eu tinha tido ela naquele momento e era a primeira vez que eu tinha pegado ela, porque eu nunca tinha pegado elas separadas, sempre juntinhas. O coração foi a mil, superei todos os testes do coração”, afirma Débora.
Em busca de ajuda
A luta da família pela busca de tratamento para as filhas começou em Patacas, distrito de Aquiraz (CE), a 35 quilômetros da capital Fortaleza. Ainda no pré-natal, Débora recebeu a notícia que os bebês apresentavam uma grave deformidade.
O casal enfrentou preconceito até encontrar o médico Eduardo Jucá, neurocirurgião formado pela USP em Ribeirão Preto e que entrou em contato com o HC para buscar ajuda. Diante da oportunidade, Débora e Diego não pensaram duas vezes e se mudaram para o interior de São Paulo, onde passaram a morar com as filhas.
Desde 2017, o caso de Maria Ysabelle e Maria Ysadora passou a ser acompanhado por uma equipe de 30 profissionais, comandada pelo professor e neurocirurgião Hélio Rubens Machado. O estudo e o planejamento ganharam o reforço do médico James Goodrich, referência mundial no assunto. Ele esteve no Brasil durante as cinco cirurgias e elogiou a atuação dos profissionais brasileiros.
Ao circular com as filhas separadas pelo hospital, Diego descreve uma sensação de conforto, uma vez que as crianças passaram a ser encaradas com naturalidade por pessoas estranhas.
“Há dois anos e quatro meses, a gente estava esperando por isso e foram momentos difíceis que, agora, chegaram ao fim. Ela segura uma e eu seguro a outra sem que o pessoal fique com curiosidade, olhando. O importante é ter elas separadinhas e que elas tenham uma vida normal de criança”, diz o pai.
Gratidão e expectativa
Débora afirma que o sentimento é de profunda gratidão a todos que se empenharam na jornada.
“Era muito triste ver uma deitada e a outra dormindo, sem eu poder pegar. Deus e os médicos devolveram a vida de criança às minhas filhas. Eu agradeço muito por darem às minhas filhas uma vida de criança que não vive deitada, não come deitada, que eu posso pegar uma, enquanto a outra está dormindo.”
Mesmo após receberem alta, as gêmeas deverão continuar o acompanhamento médico no HC, mas os pais já planejam um fim de ano especial.
“A gente espera que, em dezembro, a gente possa passar o natal e o ano novo no Ceará. No caso, a gente já ganhou o presente, que foi ver elas separadas. Falta só a gente ter alta para ir para o Ceará novamente”, diz Diego.