Êxodo é provocado por campanha de repressão conduzida pelo Exército birmanês. Minoria muçulmana é maior população apátrida do mundo.
O êxodo dos rohingyas de Mianmar ultrapassou, nesta quinta-feira (28), o número simbólico de 500 mil refugiados em Bangladesh desde o final de agosto, uma crise humanitária acompanhada de perto pela ONU. Os recém-chegados em Bangladesh se somam aos 300 mil refugiados rohingyas que já haviam buscado abrigo no país em outros episódios de violência e perseguição.
O Conselho de Segurança da ONU vai-se reunir em Nova York nesta tarde para discutir o conflito em Mianmar, que está causando um dos maiores deslocamentos populacionais desde o início do século XXI na Ásia.
Minoria muçulmana do oeste de Mianmar, os rohingyas fogem de uma campanha de repressão conduzida pelo Exército birmanês após ataques de jovens rebeldes desse grupo, em 25 de agosto passado.
A ONU considera que o Exército birmanês e as milícias budistas conduzem uma limpeza étnica contra esta comunidade no estado de Rakhine.
Maior população apátrida do mundo, os rohingyas são tratados como estrangeiros em Mianmar, um país mais de 90% budista. Vítimas de discriminação, não podem viajar, nem se casar sem autorização. E não têm acesso ao mercado de trabalho, ou a serviços públicos, como escolas e hospitais.
Naufrágio
Enquanto isso, Bangladesh testemunha uma nova tragédia migratória.
Uma embarcação com refugiados naufragou na quarta-feira à noite (28) perto do continente. As águas do Golfo da Bengala levaram 14 corpos, principalmente mulheres e crianças. O número de vítimas deve aumentar.
“Eles afundaram sob nossos olhos e, alguns minutos depois, as ondas trouxeram os corpos até a praia”, relata Mohammad Sohel, um comerciante.
Sobrevivente do naufrágio, Nurus Salam estava aos prantos, depois de perder sua mulher e um filho. “O barco atingiu algo quando se aproximava da praia e, então, ele virou”, conta, em estado de choque, a um repórter da AFP.
ONGs sobrecarregadas
O êxodo dos rohingyas para Bangladesh, uma nação pobre do sul da Ásia de maioria muçulmana, paralisou o país.
Nos gigantescos campos de refugiados ao longo da fronteira, as autoridades e as ONGs estão sobrecarregadas pela maré humana e se preocupam cada vez mais com os riscos para a saúde. As condições atuais são propícias para o aparecimento de surtos de cólera, disenteria, ou diarreia.
Reconhecendo suas limitações diante dessa crise humanitária, o governo de Daca relaxou suas restrições às ONGs e autorizou 13 organizações nacionais e internacionais a atuarem nos acampamentos por uma janela máxima de dois meses.
Em Rakhine, do lado birmanês, dezenas de aldeias foram reduzidas a cinzas, e milhares de rohingyas estariam deslocados, ou escondidos nas florestas, sobrevivendo com pouca comida e sem ajuda médica.
Mianmar é alvo de críticas
Alvo de críticas, Mianmar denuncia um viés pró-Rohingya da comunidade internacional e destaca os quase 30.000 budistas e hindus que também foram deslocados desde o final de agosto, em razão da crise.
Com grande dificuldade, a líder birmanesa, Aung San Suu Kyi, tenta preservar um equilíbrio frágil com um Exército muito poderoso. Em discurso na semana passada, a Prêmio Nobel da Paz garantiu estar aberta a um retorno dos refugiados, mas de acordo com critérios que permanecem ambíguos.
Fonte: G1