Candidata da Rede saiu da sua passividade natural, falando de “propostas e propósitos”, para dar uma “enquadrada” no capitão da reserva
O debate realizado ontem pela Rede TV!, em parceria com a Istoé, com os candidatos elegíveis à Presidência estava caminhando para um desfecho morno, quase chocho, quando, enfim, o formato de ringue proposto pelos organizadores mostrou a que veio.
O clima de passeio no parque dava o tom, e talvez, por isso, Jair Bolsonaro (PSL) escolheu precisamente a única mulher entre eles para fazer uma pergunta sobre um dos seus temas prediletos: o uso de armas de fogo. Só que Marina Silva (Rede) saiu da sua passividade natural, falando abstratamente de “propostas e propósitos”, para dar uma “enquadrada” no capitão da reserva.
Ela queria mesmo era um duelo, daqueles de fim de tarde.
Bolsonaro: “nenhum é mais popular do que eu”
Com a voz elevada e olhando fixamente para um atordoado Bolsonaro, ela fez o que Henrique Meirelles tentou fazer em uma pergunta anterior, mas não tinha conseguido. Questionou Bolsonaro pela sua fala dúbia em um debate anterior sobre o governo não poder interferir no fato da mulher ganhar menos do que o homem na iniciativa privada, e, por tabela, aplicou um duro golpe no seu ponto mais frágil: a relação turbulenta que tem com o eleitorado feminino.
“Só uma pessoa que não sabe o que significa uma mulher ganhar um salário menor do que um homem e ter as mesmas capacidades, a mesma competência e ser a primeira a ser demitida, a última a ser promovida… Tem de se preocupar sim, porque, quando se é presidente da República, tem de se fazer cumprir o artigo quinto da Constituição Federal, que diz que nenhuma mulher deve ser discriminada. Não pode fazer vista grossa dizendo que não precisa se preocupar. Precisa se preocupar, sim. Um presidente da República está lá para combater a injustiça”, ensinou.
Mas o pior para Bolsonaro ainda estava por vir.
Depois de ser atacada por suas posições sobre aborto e descriminalização da maconha, Marina acusou Bolsonaro de tentar resolver tudo “no grito, na violência”. E disparou à queima-roupa, como aquelas mulheres vingadoras do cinema americano: “Nós somos mães, nós educamos os nossos filhos. A coisa que uma mãe mais quer é um filho sendo educado para ser um cidadão de bem. E você fica ensinando para os nossos jovens que têm de resolver coisas na base do grito. Bolsonaro, você é um deputado, é um pai de família. Você um dia desses pegou a mãozinha de uma criança e ensinou como é que se faz para atirar”.
Pronto.
O estrago estava feito.
Obviamente, é prematuro qualquer diagnóstico a respeito do que isso pode representar na campanha a partir de agora. Marina sobe? Bolsonaro cai? Só o tempo responderá, mas o fato é que foi aberto um flanco considerável na até então inabalável campanha do candidato do PSL, e, justamente, no eleitorado feminino, o maior do País, onde, sabemos, o papel de “mocinho” já não é dele.+
Fonte: R7