Uilker Alves disse em vídeo que igreja fazia pacto com o diabo, mas depois contou que queria ser batizado, porém ninguém da congregação o visitou em casa. Dos quatro feridos, dois continuam internados em estado regular, em Aparecida de Goiânia.
O jovem de 28 anos que confessou ter esfaqueado quatro fiéis dentro de uma igreja em Aparecida de Goiânia pode responder por terrorismo, segundo o delegado que investiga o caso, Divino Batista dos Santos. Ele afirmou que ainda vai ouvir formalmente Uilker Alves nesta segunda-feira (3) para poder descobrir a real motivação para o crime. O rapaz está preso em flagrante e se diz arrependido.
“O crime que ele pode responder, além das quatro tentativas de homicídio, seria o ato de terrorismo. Se ficar provado que ele agiu exclusivamente por questão religiosa, tendo convicção que aquela igreja pregava coisas diferentes do que ele acredita, com a finalidade de provocar clamor social e se vingar daquela religião, ele vai responder por ato de terrorismo”, disse ao G1.
O ataque aconteceu na manhã de domingo (2), na Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, no Setor Colina Azul. Em um vídeo em que confessa as agressões, Uilker apresenta versões confusas, dizendo inicialmente que ouviu falar que o local fazia pactos com o diabo, mas depois falando que ninguém da igreja havia lhe visitado em casa, conforme tinha pedido anteriormente (assista abaixo).
O crime de terrorismo está previsto na Lei 13.260 do Código Penal e inclui crimes praticados por “xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia ou religião”. A pena varia de 12 a 30 anos em caso de condenação.
O delegado diz que o suspeito planejava o crime há bastante tempo, sendo que, inclusive, chegou a postar nas redes sociais que faria um “massacre” na igreja. Informalmente, ele afirmou que seu ódio contra a igreja teve início há cinco anos.
“Ele diz que em 2013 foi abordado por dois mórmons falando sobre religião e que pediram o endereço dele para batiza-ló. Porém, ele afirmou que ficou anos esperando e eles nunca apareceram. Isso gerou uma revolta e a vontade dele de matar”, pontuou.
Uilker mora com a mãe em Goianésia, a 176 km de Goiânia, na região sul do estado. De acordo com as investigações, no sábado, um dia antes do crime, ele comprou as duas facas e viajou até Anápolis, onde passou a noite. No dia seguinte, seguiu para Aparecida de Goiânia.
Segundo o delegado, o jovem ainda não tem advogado. Santos destacou que Uilker “nitidamente tem distúrbios” e que se expressa de forma confusa. Apesar disso, somente um laudo pode confirmar se ele possui transtornos psiquiátricos. A avaliação, porém, ainda não foi solicitada.
Em nota, a igreja disse estar “triste” em relação ao ocorrido e afirmou que “está dando apoio àqueles que estiveram presentes durante o incidente e estamos orando por todos os envolvidos”. A instituição afirmou ser reconhecida no Brasil desde 1930 e ter mais de 1,5 milhão de membros no país.
O ataque
Segundo as investigações, Uilker entrou com duas facas na igreja. Cerca de 120 pessoas participavam de uma reunião no momento. Testemunhas disseram que ele chegou a se sentar em um dos bancos, mas pouco depois começou a esfaquear algumas pessoas.
Quatro homens ficaram feridos. Dois deles foram atendidos e liberados no domingo (2). Os demais continuavam hospitalizados até as 8h30 desta segunda-feira (3), um no Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia (Huapa) e outro no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). O estado de saúde de ambos é considerado regular.
Wilson Alves Batista, de 40 anos, que está no Huapa, conta que foi esfaqueado após atingir o autor do ataque.
“Na hora eu pensei nas crianças, né. Eu peguei a muleta do meu irmão e bati na cabeça dele. Aí ele pegou a faca e me acertou”, disse Wilson.
Já o pacienteque está no Hugo, segundo a assessoria de imprensa, foi submetido a cirurgia no início da noite de domingo (2) para correção de ferimento em braço direito e, neste momento, encontra-se internado em um leito de enfermaria sob cuidados multidisciplinares, orientado, consciente e respirando de forma espontânea.
Confissão em vídeo
No vídeo, gravado após a prisão, Uilker aparece algemado, sentado no chão e com um curativo na cabeça.
“Assisti a um vídeo que fala que aquela igreja lá eles negam o nascimento de Jesus Cristo, e fala que, na primeira batalha contra Lúcifer, fala que Jesus Cristo colocou a maldição no corpo da pele escura e, depois que ele morreu na cruz, ele jogou a maldição da calvície sobre o povo.”
“Ninguém quer ir para a cadeia, ninguém quer fica preso. Aconteceu. Se eu pudesse voltar atrás, eu voltava”, disse sobre o ataque.
O jovem disse que queria entrar para a igreja, mas ninguém foi visitá-lo. “Eu ia lá várias vezes, dei meu endereço para eles visitarem minha casa, pedi, implorei, e eles nunca foram. Meu objetivo era alguém me batizar.”
O delegado Vicente Gravina, que estava de plantão e registrou o caso, disse que o depoimento do jovem foi incoerente e desconexos.
“Aparentemente, ele fala algumas coisas ali que não são muito conexas. Não tem muita coerência. Agora, afirmar que ele tem algum problema mental, somente após o pedido da perícia, por parte da polícia, para que fosse constatado”, afirmou.