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Gal Costa lança CD ‘jovem e carpe diem’ mas diz que ainda é ‘leoa’

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Mallu, Camelo, Criolo, Céu e Lira compuseram músicas para ‘Estratosférica’.Ao G1, ela lembra exílio de Caetano e Gil: ‘Segurei a barra do Tropicalismo’.

Gal Costa, de 69 anos, diz que fala sério quando canta “Não sou mais tola/ Não mais me queixo/ Não tenho medo/ Nem esperança” na música “Sem medo nem esperança”. “É uma canção autobiográfica, fodástica”, afirma sobre a primeira faixa de seu disco mais recente, “Estratosférica”. O adjetivo não é elogio para si própria, mas para o poeta Antonio Cícero, autor da letra. Em entrevista ao G1 por telefone, ela conta também que o fato de se tratar de um rock foi decisivo para ser este o número de abertura do CD.

Como Gal estava querendo “uma aura jovem”, “Estratosférica” tem músicas de Mallu Magalhães, Marcelo Camelo, Céu, Thalma de Freitas, Junio Barreto, Lira, Bactéria e Pupillo, dentre outros. E há uma parceria de Criolo com Milton Nascimento. Dos mais antigos (ou quase), foram convocados Tom Zé, Arnaldo Antunes, Marisa Monte e o favorito da artista,  Caetano Veloso (“ninguém compõe melhor para mim”. Ele assina “Você me deu” ao lado de um dos filhos, Zeca Veloso.

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Ainda sobre Caetano, Gal se lembra de quando o amigo esteve no exílio, o que também aconteceu a Gilberto Gil. “Fiquei sozinha aqui no Brail. Eu me vestia daquela maneira, meu cabelo era como aquele, saía na rua e algumas vezes me agrediam verbalmente. E eu me sentia como uma leoa, para defender aquilo que estava fazendo.” E hoje? “É diferente, mas me sinto como uma leoa, sim”, responde, rindo. Leia, a seguir, os principais trechos da conversa:

G1 – Você já disse que, nos anos 1970, quando cantava, ‘era como uma leoa, como se empunhasse uma arma’. E hoje, como é?
Gal Costa Hoje, é diferente. Nos anos 1970 estava sozinha aqui [no Brasil], era uma época de muita repressão, eu estava segurando aquela barra toda, né? Não era fácil. Eu me vestia daquela maneira, meu cabelo era como aquele, eu saía na rua e as pessoas estranhavam minha figura, algumas vezes me agrediam verbalmente, e era muito difícil…

Eu fiquei aqui não porque eu quis. Fiquei aqui porque não tinha dinheiro para ir. Eu não podia ir. E, sei lá, vai que as energias divinas me colocaram aqui para manter viva a ideologia do Tropicalismo. Fiquei aqui defendendo, cantando as canções que eles compunham lá, e me vestindo de um jeito tropicalista, enfim… Eu fui a porta-voz, segurei a bandeira.

E eu me sentia como uma leoa naquele momento. Eu segurava a guitarra, às vezes pensava que era uma arma para defender aquilo que eu estava fazendo. Hoje é diferente. Eu me sinto como uma leoa, sim (risos). Defendendo o que eu faço, mas hoje de maneira diferente. Graças a Deus.

G1 – ‘Estratosférica’ abre com uma música que se chama ‘Sem medo nem esperança’, um rock. Foi intencional?
Gal Costa –
Foi. Exigi que a abertura fosse esta canção. Por causa de todo o texto, da letra do Antonio Cícero, que é realmente para este meu momento, fodástica. E porque é um rock. Por todas essas razões. É uma canção autobiográfica, fala de mim. É como se eu estivesse falando para as pessoas. Aquilo que eu digo é verdade.

O Antonio Cícero fez uma coisa que o Caetano sabe fazer muito bem: compor para mim, dizer aquilo que é verdade para mim. “Sem medo nem esperança” diz o que eu quero dizer agora.

G1 – Qual é o seu maior medo e qual a sua esperança?

Gal Costa – Meu maior medo? A gente tem medo na vida, mas não vai deixar de avançar por causa do medo. [Pensa durante uns segundos] O significado de “Sem medo nem esperança” é aquela coisa que está no carpe diem: sem medo nem expectativa.

Ao mesmo tempo, contrariando isso, a letra diz que tem muita coisa por fazer. É como se você ganhasse nova alma, nova vida. Então, você se vê fora de si e sem vaidade, olhando para o céu de espelho, se vendo. É uma letra muito bonita.

Medo todo mundo tem, de muita coisa. Mas a gente não deixa de fazer. Meu maior medo? Não sei qual é.

G1 – Além de jovens como Mallu Magalhães, Camelo, Criolo e Céu, o ‘Estratosférica’ tem presença de nomes mais antigos, como Milton, Tom Zé, João Donato. Fez isso para equilibrar?
Gal Costa –
Não é isso, não. A ideia de juntar o Criolo com o Milton foi, na verdade, de Marcus [Preto, diretor artístico]. E nasceu uma canção linda, belíssima. Acho que tem gente da minha geração que é muito moderna e atual: o Caetano, o próprio Donato, o Tom Zé. Não significa que um compositor mais jovem seja mais moderno, tenha mais capacidade ou sei lá o quê do que um da minha geração. Acho que gravei aquilo que realmente bateu.

G1 – O primeiro single do disco é ‘Quando você olha pra ela’, da Mallu Magalhães. Como a música chegou a você?
Gal Costa –
Ela mandou a pedido. Assim como o Camelo. Ele mandou duas, uma que gravei e outra que quero cantar no show.

G1 – E por que o primeiro single é esta música da Mallu?
Gal Costa –
Por quê? É uma música que tem um clima de Jorge Ben Jor, uma canção lúdica, de amor, que combina com a minha voz, o jeito do meu canto. Foi escolhida e premiada para sair nas rádios.

G1 – Você falou para os produtores, Kassin e Moreno Veloso: ‘Enlouqueçam nos arranjos. Não quero nada careta. Quero um disco arrojado’. Satisfeita com o resultado?
Gal Costa –
Não é questão de ser careta ou não ser careta. Na verdade, não queria que nada fosse clássico ou lugar comum. O meu disco anterior – “Recanto”, com Caetano [de produtor] – é um disco de vanguarda, que tem uma sonoridade realmente muito diferente.

Então, a minha ideia era seguir, mas fazer um disco mais palatável, mais acessível e que tivesse uma aura jovem. Queria gravar gente mais nova, que eu nunca havia gravado antes, e resgatar coisas que fiz no passado e que o próprio “Recanto” de certa maneira já resgatava.

G1 – Acha que junto com essa renovação de compositores acontece uma renovação do seu público?
Gal Costa –
Já vinha acontecendo antes do “Recanto”. Os jovens já estavam ouvindo meus disco. É uma mudança mesmo. Tem o meu público que permanece me acompanhando e tem o público que realmente que pode não se identificar com esse tipo de sonoridade do meu disco novo. Tem muita gente jovem nos meus shows e na internet, que me segue no Twitter e mesmo no Instagram, você pode perceber.

G1 – O texto de divulgação de ‘Estratosférica’ diz que, apesar de o disco celebrar os 50 anos de carreira, você ‘foge da saudade’. Como assim?
Gal Costa –
É sempre buscar caminhos novos. Se você conhece minha carreira, você vê que tem momentos de transformações bem radicais. Aliás, desde o começo. Desde a primeira vez em que ouvi João Gilberto – que até hoje é um cantor muito contemporâneo e de vanguarda, na minha opinião –, ele causou uma estranheza. E atração. Além de estranheza, tem beleza e atração.

Então, a minha vida vem pautada por este momento. Depois, parti para assumir o Tropicalismo, cantei “Divino maravilhoso”, uma mudança radical com relação a tudo que fiz na minha vida. E vieram outras mudanças. Quando Caetano e Gilberto Gil voltaram do exílio, fiz o “Cantar”, outra ruptura muito grande com aquela sonoridade rock and roll que eu fazia na época. O “Gal tropical” foi outro grande salto radical. E por aí vai.

Essas rupturas são importantes, porque você perde algumas coisas mas ganha outras. E enriquece a vida do artista e das pessoas. O momento agora é bem apropriado. A juventude está atenda ao meu trabalho.

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Fonte: G1

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