GEORGETOWN – O contencioso territorial entre Venezuela e Guiana sobre a região de Essequibo atingiu novos patamares de tensão recentemente, com o regime de Nicolás Maduro intensificando suas atividades militares ao longo da fronteira leste. Este território disputado remonta ao Laudo Arbitral de 1899, que definiu parte da região como pertencente à Guiana, decisão contestada por governos venezuelanos sucessivos.
Em 11 de maio, o General de Exército Domingo Hernández Lárez, chefe do Comando Estratégico Operacional da FANB, anunciou a construção de uma ponte sobre o rio Cuyuní, destinada a “conectar com a Guiana de Essequibo”. Contudo, imagens divulgadas posteriormente mostraram que a ponte na verdade conectava a terra firme do estado de Bolívar à ilha de Anacoco, uma área legalmente compartilhada entre os dois países conforme o Laudo Arbitral de 1899. A ilha, de cerca de 28 quilômetros quadrados, abriga uma base militar venezuelana, apesar de não possuir assentamentos civis.
A presença militar venezuelana em Anacoco é motivo de controvérsia e é considerada uma violação do Acordo de Genebra de 1966, que visa a buscar uma solução pacífica para a disputa territorial. Em 2020, a Guiana levou o caso à Corte Internacional de Justiça, que aceitou analisar a disputa.
Recentemente, o regime venezuelano também aumentou sua presença militar nas águas do rio Orinoco, especificamente na área da Sede de Defesa Integral de Kaituma. A Marinha Venezuelana ancorou o navio de transporte ARV Margarita de forma a limitar a passagem de outras embarcações locais, um movimento interpretado como provocativo pelas autoridades internacionais.
Phil Gunson, do International Crisis Group, destacou que o regime de Maduro utiliza uma retórica beligerante em relação à disputa por Essequibo, buscando ganhos políticos internos com essa postura. Gunson enfatizou que, embora as tensões estejam altas, um conflito em grande escala não é previsto, dada a presença de aliados poderosos da Guiana prontos para defendê-la.
Imagens de satélite analisadas pelo Centro de Estudos Estratégicos Internacionais revelaram o aumento das obras de infraestrutura militar na Ilha de Anacoco, incluindo a expansão da pista de pouso e a instalação de armamento, aeronaves e sistemas de defesa antiaérea em Guiria, estado de Sucre. Essas movimentações refletem uma escalada militar significativa na região, marcada por uma retórica que considera qualquer ação defensiva da Guiana como uma agressão.