PARAMARIBO – O dorama sul-coreano Narco-Santos, disponível na Netflix, tem gerado controvérsia desde seu lançamento ao retratar o Suriname como um centro de tráfico internacional de drogas. Baseado em uma história real, o K-drama segue a trajetória de um criminoso coreano, interpretado por Hwang Jung-min, que liderou um cartel no Suriname no final dos anos 1990 e início dos 2000. A série rapidamente se tornou um sucesso global, alcançando a terceira posição no ranking de audiência da plataforma, onde permaneceu por uma semana. Contudo, a representação negativa do país gerou fortes reações por parte do governo surinamês.
Após o lançamento de Narco-Santos, o governo do Suriname expressou indignação sobre a forma como o país foi retratado na produção. Albert Ramdin, ministro de Relações Exteriores do Suriname, criticou a série publicamente, dizendo que ela apresentava a nação como um “Estado do narcotráfico”, prejudicando ainda mais a imagem do país.
Em sua declaração, Ramdin afirmou que a série contribui para a percepção internacional de que o Suriname é um centro de atividades criminosas, em especial o tráfico de drogas, o que só agrava os desafios que a nação já enfrenta em relação à criminalidade e atividades ilícitas transnacionais. O ministro também revelou que o governo do Suriname havia cogitado tomar medidas legais contra os produtores da série e estava preparando uma queixa formal a ser encaminhada ao governo sul-coreano.
Além disso, Ramdin expressou preocupação com o impacto que a série teria sobre o turismo e os negócios no Suriname, alertando que as representações negativas poderiam prejudicar a reputação do país no cenário internacional.
Apesar das críticas, o diretor da série, Yoon Jong-bin, defendeu a escolha do Suriname como cenário para a narrativa, explicando que não houve a necessidade de alterar os locais retratados, uma vez que a história foi baseada em eventos reais. “A série é uma representação fiel dos fatos e dos locais onde as coisas aconteceram”, disse o diretor, enfatizando que a produção não tinha a intenção de prejudicar o país, mas sim de contar uma história verídica e dramática de uma rede de narcotráfico internacional.
A série é inspirada na vida de Bong-haeng, um traficante coreano que, no final dos anos 1990, estabeleceu uma rede de distribuição de drogas no Suriname, usando o país como ponto de passagem para o transporte de substâncias ilícitas da América do Sul para a Europa. Bong-haeng foi preso em 2009 no Brasil e, posteriormente, extraditado para a Coreia do Sul, onde enfrentou as consequências de suas ações criminosas.
Em Narco-Santos, o personagem principal, Jeon Yo-hwan, lidera um cartel de drogas com base no Suriname, estabelecendo uma rede de narcotráfico que se espalha por vários continentes. A série acompanha a luta das autoridades coreanas para capturá-lo, com a ajuda de Kang In-gu, um empresário relutante que acaba se envolvendo nas investigações. A figura de Jeon Yo-hwan é retratada como a de um criminoso astuto que, além de operar suas atividades ilegais, se disfarça como um cidadão exemplar, ganhando a confiança da comunidade local enquanto disfarça suas práticas criminosas.
A escolha de retratar o Suriname como um centro de narcotráfico tem sido uma fonte de divisão entre os espectadores e autoridades locais. Embora a série tenha sido um sucesso de audiência, com muitos elogios à qualidade de sua produção e à complexidade de seus personagens, a representação do Suriname como um ponto estratégico para o tráfico internacional de drogas continua a gerar um debate acalorado sobre os limites da ficção e os impactos de tais retratações na percepção pública de um país.
No entanto, a série não é a primeira a colocar o Suriname em uma posição controversa. O país já foi associado a atividades criminosas devido à sua localização estratégica entre a América do Sul e a Europa, além de ser um ponto de passagem para diversas rotas de tráfico de drogas.