BRASÍLIA – A diplomacia do governo Luiz Inácio Lula da Silva encontra-se diante de um desafio crucial, envolvendo não apenas os conflitos globais do Oriente Médio e a tensão entre Rússia e Ucrânia, mas também uma crise iminente no quintal brasileiro. Recentemente, Lula participou de uma videoconferência “urgente” com o presidente da Guiana, Irfaan Ali, para discutir uma crescente crise militar na região.
O motivo principal da reunião foi um apelo para que Lula intercedesse junto ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro, impedindo-o de cumprir a ameaça de invadir e anexar mais de 50% do território da Guiana. A situação torna-se ainda mais delicada diante da proximidade da Venezuela e da Guiana com o Brasil, com implicações significativas para a segurança regional.
A crise se desenrola em meio às dificuldades internas enfrentadas pela Venezuela e a flexibilização das sanções pelos Estados Unidos. A Assembleia Nacional da Venezuela aprovou um referendo, agendado para 3 de dezembro, no qual os venezuelanos decidirão se a disputada “Guiana Essequibo”, rica em petróleo, deve se tornar parte do Estado bolivariano.
Celso Amorim, assessor especial da Presidência, desempenhou um papel crucial na viabilização da videoconferência entre Lula e o presidente da Guiana, sob a mediação do Itamaraty. O governo brasileiro, preocupado com a possível violação da soberania do país vizinho por Maduro, ainda não expressou publicamente uma posição sobre a ameaça, mas reconhece a possibilidade de um problema de insegurança regional.
Ambos os países envolvidos fazem fronteira com o Brasil, e a região disputada inclui poços de petróleo explorados pela Exxon Mobil. A eventual anexação dessa área pela Venezuela teria implicações diretas para o Brasil, com uma fronteira terrestre adicional e acesso ao litoral.
O Palácio do Planalto agora enfrenta a necessidade de um debate aprofundado sobre o assunto. Espera-se que Lula, conhecido por suas habilidades diplomáticas, possa realizar esforços de gestão com Maduro, com quem mantém relações amistosas. No entanto, a posição venezuelana é considerada desafiadora, mesmo entre alguns setores da oposição que apoiam a tomada da região.
Após a reunião com Lula, o ministro das Relações Exteriores da Guiana, Robert Persaud, destacou que as discussões envolveram cooperação de defesa e militar, respeito à soberania e integridade territorial, além do cumprimento das leis internacionais. O tema também será abordado em um encontro de chanceleres e ministros da Defesa da América do Sul na próxima quinta-feira.
A questão preocupa não apenas o Brasil, mas também o governo dos Estados Unidos, conforme indicado pela embaixadora americana na Guiana, Nicole Theriot, que enfatizou o compromisso democrático na região. A situação continua a evoluir, e a região aguarda as próximas movimentações diplomáticas para lidar com essa crescente crise na fronteira.