O câncer de ovário, doença que causou a morte da atriz Márcia Cabrita, aos 53 anos, ocupa a sétima posição dentre os cânceres malignos mais frequentes em mulheres e a terceira posição entre os cânceres ginecológicos no Brasil. Trata-se de uma doença silenciosa com sintomas que aparecem em fases avançadas levando ao atraso do início do tratamento.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimou 6150 novos casos em 2016 e é a quinta maior causa de morte por câncer entre as mulheres. Essa elevada mortalidade está diretamente relacionada ao diagnóstico tardio. “Atualmente 80% dos tumores são diagnosticados em fase avançada, reduzindo a sobrevida da paciente. Entender o comportamento e os fatores desencadeantes desse tipo de câncer é o primeiro passo”, aponta o oncologista clínico David Pinheiro Cunha.
O câncer de ovário é o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado e, por esse motivo, é o que menos tem chance de cura, “Na fase inicial, a grande maioria das pacientes são assintomáticas ou apresentam sintomas inespecíficos como dores abdominais, náuseas e alteração do hábito intestinal, não levando a paciente a procurar seu médico. Quando os sintomas tornam-se intensos, podendo cursar com aumento do volume do abdômen pela formação de liquido (ascite) ou obstrução do intestino causando dificuldade para evacuar, a doença já está avançada e a chance de cura é menor”, explica o oncologista clínico.
O médico conta que o câncer de ovário pode ser dividido em três principais tipos: tumores epiteliais, que se iniciam nas células que recobrem a superfície externa no ovário, responsáveis por 95% dos casos; tumores de células germinativas, que originam os espermatozoides e os ovócitos, responsáveis por 2-3% dos casos e tumores estromais, constituídos a partir do cordão sexual da gônada, responsáveis por 5% dos casos.
“É importante saber que todas as mulheres podem ter câncer de ovário, mas as que apresentam maior risco são: as com histórico familiar de câncer de ovário ou mama, idade avançada (acima dos 60 anos), nunca ter ficado grávida, menarca precoce, menopausa tardia, endometriose, reposição hormonal na pós-menopausa e tabagismo. As síndromes hereditárias também aumentam significativamente esse risco, predispondo a doença em idades mais jovens. As mutações de maior importância são BRCA 1, BRCA 2 e a síndrome de Lynch (alteração genética em genes do DNA)”, afirma.
Para o diagnóstico o médico necessita de uma avaliação clínica, exame físico e ginecológico, exames de sangue com marcador tumoral (Ca 125) e exames de imagem (ultrassom transvaginal, tomografia computadorizada e ressonância magnética). “Quando o tumor está em fase inicial, os exames de imagem identificam uma lesão nodular ou uma massa restrita aos ovários. Na doença avançada pode ocorrer disseminação dos nódulos para o peritônio (camada que reveste o intestino), formação de liquido no abdômen e metástase para outros órgãos como fígado e pulmão. Importante ressaltar que para o diagnóstico definitivo é necessário uma biópsia da tumoração apontada no exame de imagem”, explica o médico.
O tratamento depende do estágio da doença. As opções principais são: cirurgia seguido de quimioterapia ou, quando o tumor apresenta-se mais avançado, iniciar quimioterapia e posterior avaliação cirúrgica. “Infelizmente os métodos de rastreamento para câncer de ovário não se mostraram efetivos para a população geral como é o caso do Papanicolau no câncer de colo de útero. A realização de exames de ultrassom transvaginal e marcador tumoral (Ca 125) apenas resultou em maior número de procedimentos e gastos para a saúde sem benefício significativo em reduzir a mortalidade, portanto, não sendo indicado de rotina”, aponta o especialista.
Fonte: G1