Presidente eleito afirmou ao JN que Constituição será ‘bíblia’, que é ‘totalmente favorável’ à liberdade de imprensa e que fala na qual se referiu a ‘marginais vermelhos’ foi ‘desabafo’.
O presidente eleito Jair Bolsonaro afirmou na noite desta segunda-feira (29), em entrevista ao vivo ao Jornal Nacional, que convidará o juiz federal Sérgio Moro para ser o futuro ministro da Justiça ou então o indicará para uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal.
“Pretendo convidá-lo para o Ministério da Justiça ou – seria no futuro – abrindo uma vaga no Supremo Tribunal Federal, na qual melhor ele achasse que poderia trabalhar para o Brasil”, afirmou Bolsonaro.
Na entrevista, além da questão sobre Sérgio Moro, o presidente eleito respondeu a perguntas sobre outros cinco temas:
- classificou a Constituição como uma “bíblia”;
- afirmou que a acusação de homofobia é um “rótulo”;
- se declarou “totalmente favorável” à liberdade de imprensa;
- disse que a fala sobre “marginais vermelhos” foi um “desabafo”;
- e pediu “uma oportunidade” aos eleitores que não votaram nele.
Leia abaixo a transcrição da entrevista.
William Bonner – Nesta edição especial do Jornal Nacional, nós temos a presença do 38º presidente da República Federativa do Brasil, Jair Messias Bolsonaro. Presidente, muito boa noite.
Jair Bolsonaro – Boa noite, Bonner, boa noite, Renata.
William Bonner – Primeiro, parabéns por essa vitória ampla nas urnas. Muito obrigado desde já por abrir as portas da sua casa para o Jornal Nacional nesta noite tão especial de um dia que certamente foi muito atribulado para o senhor. Nós já sabemos que, em primeiro lugar, o senhor deseja agradecer os eleitores brasileiros. E é muito justo. Por favor.
Jair Bolsonaro – Quero agradecer a todos que votaram em mim pelo apoio confiança, agradecer pelas orações. Afinal de contas, ao longo de quatro anos, não só na pré-campanha, mas na campanha, tivemos uma bandeira baseada na passagem João 8:32 e está na hora de o Brasil conviver com a verdade. Agradeço os que confiaram no meu nome nas urnas.
Constituição
William Bonner – Presidente, nesses poucos minutos, nós queremos aproveitar aqui a sua disposição para acalmar os ânimos que andaram tão acirrados ao longo dessa campanha. No primeiro dia depois do segundo turno, o senhor disse aqui, no Jornal Nacional, que será um escravo da Constituição de 1988. No último sábado, agora, na sua última aparição nas redes sociais antes da eleição, o senhor estava com um exemplar da Constituição nas mãos e reiterou que todas as suas ações seguirão os postulados da Constituição. No seu discurso da vitória de ontem, o senhor disse que vai defender as liberdades e vai defender a democracia. Diante disso tudo, o que é que o senhor diria àqueles que ainda insistem em dizer que a sua eleição é um risco para a democracia?
Jair Bolsonaro – Primeiro, dizer-lhes que as eleições acabaram. Chega de mentira. Chega de fake news. Realmente agora estamos em uma outra época. Eu quero governar para todos, como você bem disse, no Brasil. Não apenas para os que votaram em mim. Temos uma Constituição que tem que ser, realmente, a nossa bíblia aqui na terra. Respeitá-la, porque só dessa maneira podemos conviver em harmonia.
Preconceito e violência
Renata Vasconcellos – Durante a campanha, o senhor já teve a oportunidade de se desculpar por palavras mais fortes que usou em sua pregação sobre um projeto polêmico de educação sexual nas escolas. Chegou até a pedir desculpas aqui no JN por ter se excedido no calor das discussões. Em outra ocasião, disse enfaticamente não ter nada contra os gays. Depois, disse que vai lutar contra aqueles que querem dividir o Brasil entre homos e héteros, entre brancos e negros, entre sulistas e nordestinos. Há relatos concretos sobre pessoas que têm agredido gays – verbalmente e fisicamente. Na campanha, o senhor repudiou o voto dos que usam a violência. Como presidente eleito, o que o senhor diria para aqueles que ousem ser preconceituosos e agressivos contra outro ser humano apenas por serem gays?
Jair Bolsonaro – A agressão contra os semelhantes tem que ser punida na forma da lei e se for por um motivo como esse tem que ter pena agravada. Deixo bem claro: ganhei rótulo por muito tempo de homofóbico. Na verdade, fui contra a um kit feito pelo então ministro da Educação, Haddad, que de 2009 para 2010, onde chegaria nas escolas um conjunto de livros e cartazes e filmes onde passaram crianças se acariciando e meninos se beijando. Não poderia concordar com isso. A forma como ataquei essa questão é que foi um tanto quanto agressiva porque achava que o momento merecia isso. Tivemos em parte sucesso porque no ano seguinte a presidente Dilma, depois de ouvir as bancadas evangélica e católica, resolveu recolher o material. Mas o rótulo ficou em cima de mim. Isso tudo aconteceu por causa do 9º seminário LGBT infantil na Comissão de Direitos Humanos da Câmara onde presente estava o secretário de Alfabetização, André Lazaro. E os senhores podem pegar as imagens no YouTube onde ele dizia que passou discutindo até onde a língua da menina entraria na boca da outra. A essa agressão contra a família e contra a inocência das crianças em sala de aula resultou na minha forma um tanto quanto violenta, concordo, para tentar demover o ministério dessas cartilhas, filmes e cartazes.
Liberdade de imprensa
William Bonner – Presidente, o senhor sempre se declara, enfaticamente, aliás, um defensor da liberdade de imprensa. Mas, em alguns momentos da campanha, o senhor chegou a desejar que um jornal deixasse de existir. É indiscutível que a imprensa não é imune a erros e nem a críticas e isso vale para qualquer órgão da imprensa profissional. Mas também é fato que a imprensa livre é um pilar da democracia. Como presidente eleito, o senhor vai continuar defendendo a liberdade da imprensa e a liberdade do cidadão de escolher o que ele quiser ler, e o que ele quiser ver e ouvir?
Jair Bolsonaro – Totalmente favorável à liberdade de imprensa. Temos a questão da propaganda oficial do governo que é uma outra coisa. Mas aproveito o momento para que nós realmente venhamos fazer justiça aqui no Brasil. Tem uma senhora de nome Valderice, minha funcionária, que trabalhava na vila histórica de Mambucaba, e tinha uma lojinha de açaí. O jornal “Folha de S.Paulo” foi lá nesse dia 10 de janeiro e fez uma matéria e a rotulou de forma injusta como fantasma. É uma senhora, mulher, negra e pobre. Só que nesse dia 10 de janeiro, segundo boletim administrativo da Câmara de 19 de dezembro, ela estava de férias. Então, ações como essa, por parte de uma imprensa, que mesmo a gente mostrando a injustiça que cometeu com uma senhora, ao não voltar atrás, logicamente que eu não posso considerar essa imprensa digna. Não quero que ela acabe. Mas, no que depender de mim, da propaganda oficial do governo, imprensa que se comportar dessa maneira, mentindo descaradamente, não terá apoio do governo federal.
William Bonner – Então o senhor não quer que esse jornal acabe. O senhor está deixando isso claro agora.
Jair Bolsonaro – Por si só, esse jornal se acabou. Não tem prestígio mais nenhum. Quase todas as fake news que se voltaram contra mim partiram da “Folha de S.Paulo”, inclusive a última matéria, onde eu teria contratado, né, empresas fora do Brasil, via empresários aqui para espalhar mentiras sobre o PT. Uma grande mentira, mais uma fake news do jornal “Folha de S.Paulo”, lamentavelmente.
William Bonner – Presidente, me permita, como editor-chefe do Jornal Nacional, eu tenho um testemunho a fazer. Às vezes, eu mesmo achei que críticas que o jornal “Folha de S.Paulo” tenha feito ao Jornal Nacional me pareceram injustas. Isso aconteceu algumas vezes. Mas, para ser justo, do lado de cá, eu preciso dizer que o jornal sempre nos abriu a possibilidade de apresentar a nossa discordância, de apresentar os nossos argumentos, aquilo que nós entendíamos ser a verdade. A “Folha” é um jornal sério. É um jornal que cumpre um papel importantíssimo na democracia brasileira. É um papel que a imprensa profissional brasileira desempenha, e a “Folha” faz parte desse grupo da imprensa profissional brasileira. Mas a gente pode seguir adiante com a próxima pergunta da Renata, por favor.