Moeda dos EUA renovou cotação máxima em mais de dez anos. Mercado reage às incertezas sobre a política de ajuste fiscal.
Após bater em R$ 3 pela primeira vez em mais de 10 anos, o dólar moderou um pouco o ímpeto de alta e fechou no patamar de R$ 2,98, reagindo às incertezas geradas pela decisão do presidente do Senado de rejeitar medida provisória que trata de desonerações tributárias, o que dificulta ainda mais o ajuste das contas públicas brasileiras.
A moeda norte-americana avançou 1,8% nesta quarta-feira (4), a R$ 2,9807 na venda, após atingir R$ 3,001 na máxima da sessão.
Trata-se da maior cotação de fechamento desde desde 19 de agosto de 2004, quando atingiu R$ 2,987.
Segundo dados da BM&F, o giro financeiro ficou em torno de US$ 2,3 bilhões.
Na noite passada, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) surpreendeu o Executivo ao rejeitar a medida provisória 669, argumentando que ela não cumpria preceitos constitucionais. Pouco depois, o governo enviou um projeto de lei com urgência constitucional assinado pela presidente Dilma Rousseff para substituir a MP.
“A devolução da MP mostra que o governo vai ter mais dificuldade para fazer o ajuste fiscal e que vai ter barreiras políticas no caminho”, disse o economista da Tendências Rodolfo Oliveira.
A perspectiva de melhora da política fiscal vinha sendo uma luz no fim do túnel em meio ao cenário de contração econômica e inflação acima de 7%. À medida que se torna mais difícil para o governo cortar seus gastos, a pressão cambial também se intensifica.
“O dólar já estava em uma tendência de alta em função dos fundamentos deteriorados. Agora, há esse “a mais”, que é o cenário político conturbado dificultando a implementação do ajuste fiscal”, disse à Reuters o analista da WinTrade Bruno Gonçalves, que não tem expectativas de alívio no câmbio no curto prazo.
Com isso, cresce a ansiedade do mercado sobre o futuro do programa de intervenção do Banco Central no câmbio.
Intervenções do BC
O atual programa de leilões diários de swap cambial (equivalente a oferta futura de dólares) está marcado para durar até pelo menos o fim deste mês, e a sinalização de que o BC pretende rolar apenas parcialmente os contratos que vencem em 1º de abril já injetou incerteza no mercado.
“Isso tudo dá mais fôlego para o mercado testar o BC”, disse o operador de câmbio da corretora Intercam Glauber Romano.
“Se não houvesse esta interferência do BC, o câmbio já deveria estar no patamar de R$ 2,90 há alguns meses”, explicou o professor do Insper Otto Nogami.
Nesta manhã, o BC deu continuidade às intervenções diárias, vendendo a oferta total de até 2 mil swaps, com volume correspondente a US$ 97,7 milhões. Foram vendidos 100 contratos para 1º de dezembro de 2015 e 1.900 para 1º de fevereiro de 2016.
O BC também vendeu a oferta total no leilão de rolagem dos swaps que vencem em 1º de abril. Até agora, foram rolados cerca de 11% do lote total, que corresponde a US$ 9,964 bilhões.
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Fonte: G1