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Fronteira da Venezuela com o Brasil completa 30 dias fechada

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Sem conseguir entregar a ajuda humanitária internacional, a instabilidade política e social se instaurou na fronteira em Roraima. Veja os principais fatos que marcaram o período.

As fronteiras da Venezuela com o Brasil e a Colômbia completam 30 dias de bloqueio neste sábado (23). Em meio a uma disputa pelo poder, divisão política internacional, repressão do governo de Nicolás Maduro contra a população e prejuízos econômicos, a tensão aumenta na América Latina.

A ajuda humanitária solicitada pelo autoproclamado presidente interino Juan Guaidó para o “Dia D” foi frustrada. Maduro anunciou o bloqueio para impedir a entrada dos produtos e, conforme ele, de uma consequente interferência externa na política venezuelana por intermédio dos Estados Unidos.

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A suspensão causou conflitos dentro e fora do país, onde venezuelanos foram atacados por tropas de Maduro dentro e fora do país. No Brasil, enquanto chegavam ambulâncias com feridos, uma base militar do país vizinho foi incendiada com coquetéis molotov e bombas de gás lacrimogêneo foram atiradas para dispersar os manifestantes.

Impedidos de atravessar, centenas de pessoas começaram a usar rotas clandestinas para chegar ao Brasil. O fechamento da fronteira também causa prejuízo nas exportações de Roraima e o presidente Jair Bolsonaro (PSL) promoveu reuniões para acelerar a construção do Linhão de Tucuruí, que insere Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN), ao qual ainda não faz parte e o torna dependente da energia produzida na Venezuela.

Na Colômbia, representantes do Grupo de Lima discutiram alternativas para garantir a democracia ao povo venezuelano. Evento contou com a presença do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, que repetiu a frase de Donald Trump, afirmando que “todas as opções estão à mesa”.

“Correndo contra o tempo o mais rápido possível para poder passar antes que a fronteira feche”, Genson Medina, venezuelano

A declaração de Maduro de que fecharia a fronteira causou correria à população venezuelana. Muitos foram a Pacaraima para comprar e estocar alimentos. Na cidade, empresários registraram aumento de 30% nas vendas às vésperas do fechamento.

Um dia antes do bloqueio, tanques do Exército se movimentaram em Santa Elena de Uairén, cidade venezuelana que faz fronteira com o Brasil, gerando apreensão e insegurança no Sul do país.

“Fechada total e absolutamente até novo aviso”, Nicolás Maduro, presidente da Venezuela

No dia 21 a fronteira foi fechada pela última vez, às 21h (horário de Brasília). Ela deveria ter sido reaberta às 8h do dia 22, o que não ocorreu. Desde então, militares de Madruro formaram uma linha de frente com o Brasil, impedindo a passagem de pessoas e veículos.

Pela manhã, ambulâncias começam a atravessar com índios venezuelanos feridos. Eles foram atacados por forças de segurança da Venezuela na comunidade indígena em Kumarakapay, distante 80 Km da fronteira. Em busca de ajuda humanitária, foram impedidos pelos militares. Uma mulher morreu e vários foram baleados com armas de fogo e agredidos.

“O clima que estamos percebendo aqui é o de guerra”, Alshelldson de Jesus, diretor-geral do Hospital Délio de Oliveira Tupinambá, em Pacaraima

As ambulâncias atravessavam a fronteira com destino ao hospital de Pacaraima. Por ser uma unidade de média complexidade, a maioria dos feridos foram transferidos para Boa Vista. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, 25 pessoas foram socorridas. Destas, três morreram, 12 receberam alta e 10 permanecem internadas no Hospital Geral de Roraima, na capital.

No dia 22 também aconteceu o show humanitário batizado como “Venezuela Aid Live” na Colômbia. Atrações internacionais como Maná, Alejandro Sanz e Maluma se apresentaram no evento que contou com a presença de Juan Guaidó, que atravessou a fronteira apesar de ter sido proibido pelo governo. Maduro promoveu um show semelhante pelo lado venezuelano.

O “Dia D”

Cerca de 200 toneladas de alimentos e medicamentos, muitos deles doados pelos EUA, foram armazenados na Base Aérea de Boa Vista para serem levados à Venezuela no chamado “Dia D”. Porém, apenas duas carretas com motoristas venezuelanos foram abastecidas com a ajuda e seguiram em direção a fronteira.

Impedidos de atravessar devido ao fechamento da fronteira no dia anterior – uma medida de Maduro para evitar o que ele chamou de interferência internacional, principalmente dos EUA -, os veículos recuaram, iniciando uma confusão generalizada. No lado brasileiro, venezuelanos atacaram com paus e pedras os militares chavistas, que revidaram com pedras e bombas de gás lacrimogêneo. Uma base militar foi incendiada pelos manifestantes com coquetéis molotov.

“Nunca tinha visto nenhum exército de outro país jogar bomba de gás lacrimogêneo no Brasil”, coronel José Jacaúna

Um novo confronto foi registrado no dia seguinte, forçando o Governo Federal a tomar uma atitude. Durante reunião em Brasília, Bolsonaro e ministros discutiram medidas para garantir a ordem na região. Agentes da Força Nacional e Polícia Rodoviária Federal começaram a proibir a permanência de venezuelanos na fronteira, ação que evitou novos conflitos até hoje.

Na Colômbia, dois caminhões foram incendiados e tiveram os produtos saqueados durante tentativa de entregar a ajuda, de acordo com a agência Reuters.

Após a frustração na distribuição de ajuda humanitária, Juan Guaidó condenou a atitude e disse que Maduro mostrou “a pior cara da Venezuela”, cobrando apoio internacional “para assegurar a liberdade” da Venezuela.

“Estamos morrendo de fome”

Na sexta (22), a venezuelana Yudievans Meléndez, de 29 anos, chegou em Pacaraima por rota clandestina depois de quatro dias de viagem. Grávida de 6 meses e acompanhada de uma amiga e do filho, eles deixaram Caracas, distante 1.200 Km, para ganhar o bebê e buscar emprego na Argentina.

“Se pra eu, adulta, a Venezuela já não está bom, imagina para meu bebê”, Yudievans Meléndez, venezuelana

Viglenis Brito, de 32 anos, afirma que não pretende ficar no Brasil devido a dificuldade com o idioma. “Deixei meu país porque lá não tinha qualidade de vida nem financeira. Estou indo para a Argentina em busca de emprego”, explica.

E em meio a essas rotas alternativas cerca de 400 pessoas se arriscam todos os dias diante da mata e montanhas, e denunciam a falta de alimentos no país. Quando a fronteira estava aberta, o fluxo diário era de aproximadamente 800 pessoas.

Através desses caminhos ilegais chegam bebês de colo, crianças, adultos e até idosos. Eles desafiam o forte calor do lavrado e o medo de serem descobertos pelas forças de segurança de Maduro.

“Que se coloquem do lado do povo, porque o povo está passando fome”, Carlos Eduardo Zapata, sargento do Exército Bolivariano

Entre os que chegam ao Brasil estão, inclusive, militares que desertaram do Exército de Nicolás Maduro. Ao menos 12 se entregaram no posto do Exército Brasileiro formado em Pacaraima. Na Colômbia, quase 300 também abandonaram o país.

Para evitar o tráfico de drogas e armas na região, o Exército montou um posto de fiscalização para inspecionar bolsas e itens de transportados por venezuelanos que entram e saem do Brasil.

Reunião do Grupo de Lima

O Grupo de Lima, criado em 2017 por iniciativa do governo do Peru para pressionar o regime de Nicolás Maduro e restabelecer a democracia na Venezuela, é formado por 13 países, entre eles o Brasil. No dia 25, um novo encontro foi realizado na Colômbia e contou com as presenças de Juan Guaidó e do vice-presidente dos EUA, Mike Pence.

 “É possível devolver a Venezuela ao convívio democrático das Américas sem qualquer medida extrema”, Hamilton Mourão, vice-presidente do Brasil

Na ocasião, Pence repetiu as palavras do presidente americano Donald Trump ao afirmar que “todas as opções estão à mesa” para “restaurar a liberdade” aos venezuelanos.

Horas antes, a porta-voz da União Europeia, Maja Kocijancic, fez um apelo para evitar a intervenção militar no país governado por Maduro.

Através do Twitter, Evo Morales também se manifestou, pedindo por “uma solução mediante o diálogo”, sem uso da força.

Brasileiros voltam para casa

Com o fechamento da fronteira, centenas de pessoas ficaram retidas na Venezuela, impedidas de voltar. Entre eles estavam turistas de diversas nacionalidades e caminhoneiros. O vice-consulado brasileiro em Santa Elena de Uairén, por intermédio do Itamaraty, tem conseguido negociar a liberação dessas pessoas através da fronteira por Roraima.

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