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Alunos voltam às aulas em escola sem teto após passagem do ciclone Idai em Moçambique

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Estudantes e professores usam chapéu e guarda-chuva para se proteger do sol durante as aulas. Unicef estima que 2,9 mil escolas sofreram danos devido ao ciclone Idai na cidade de Beira.

As paredes da escola secundária Marocanhe, em Beira, segunda maior cidade de Moçambique, resistiram aos ventos de 170 km/h do ciclone Idai, mas não o seu telhado. Dez dias depois da tragédia que deixou 90% da cidade destruída e mais de 460 mortos, os professores retomaram as suas atividades em salas de aula descobertas.

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Para se protegerem do sol, os estudantes de 12 a 16 anos usam chapéus, pedaços de tecido e até guarda-chuvas durante as aulas na escola pública que fica no bairro de Muavi, bem perto da praia. A administração do colégio de mais de 2000 alunos chegou a proibir, mas teve que voltar atrás.

“Em princípio, proibíamos os alunos de usarem chapéus, mas depois fomos ver que não havia condições e passamos aceitar tudo isso. Liberamos também para os docentes. A duração das aulas que era de 45 minutos também foi reduzida para 25”, contou o diretor e professor de filosofia da escola, Abu Bacar Abdula.

“É muito triste esse cenário, mas não temos outra opção. Precisamos prosseguir com o programa nacional de ensino. Os professores preferem dar continuidade e os alunos querem aprender. Eles vêm, participam como podem. Estão com muita vontade de aprender”.

As salas de aula da escola Marocanhe de Beira estão entre as 2,9 mil que sofreram danos na passagem do ciclone Idai em Beira, segundo estimativas iniciais do Unicef.

  • Inundações e fortes ventos causados pelo ciclone destruíram totalmente 11 mil casas entre a noite do dia 14 e a madrugada do dia 15 de março;
  • Houve danos em 39 centros médicos da cidade portuária de Beira;
  • A ONU estima que cerca de 1,8 milhão de pessoas foram afetadasde alguma maneira em Moçambique e 600 mil precisem de ajuda imediatamente;
  • Mais de 460 pessoas morreram apenas em Moçambique;
  • Número de mortes já supera 700 se somado o impacto do ciclone nos vizinhos Zimbábue e Malaui.

A direção da escola recebeu a notificação da morte de dois alunos, mas teme que esse número aumente, pois até as telecomunicações ainda não foram totalmente restabelecidas.

Abdula conta que o governo lançou alertas para a população antes da passagem do ciclone e pediu para que as pessoas deixassem as casas em áreas com risco de inundação.

“Mas as pessoas não sabiam o que isso significava, um ciclone. Os alunos agora entendem que é sinônimo de destruição, de morte. Eles sabem que as pessoas morreram depois de ser atingidas por coqueiros, galhos de mangueiras ou pelas telhas levadas pelo vento”, afirma.

Sem cadernos, sem livros

Antes da tragédia, a situação dos alunos já não era fácil.

“Cadernos? Eles já não tinham direito. Muitos deles tinham apenas um para acompanhar 7 ou 8 disciplinas e agora não têm nenhum. A maioria deles perdeu a casa, livros, material escolar e até uniforme”, diz o diretor.

A administração do colégio pensava em tirar cópias de livros para que eles pudessem acompanhar as aulas, mas a chuva também atingiu a biblioteca e nem todas as publicações poderão ser salvas. “Tínhamos mais de 2000 livros. Estamos tentando secá-los no sol para poder copiar para os alunos. A escola sofreu muito, perdeu mobília de escritório, computadores”, explica Abdula.

A escola tem água para os alunos, mas o diretor lamenta não ter condições de fornecer também comida. Alguns professores igualmente enfrentam dificuldades com a passagem do ciclone. “O vento destruiu os vidros da minha casa, levou telhas. Ficamos sem água, sem energia, sem comida. Teve professor que ficou sem casa”, relata o diretor.

O governo está fazendo um grande esforço para dar assistência. “O fornecimento de água está sendo restabelecido, em algumas regiões da cidade já tem luz. Também há uma série de parceiros que se deslocaram até Beira para ajudar”, afirma, fazendo referência às organizações internacionais e ONGs que mandaram representantes para a cidade.

Pré-escolas destruídas

A brasileira Silvia Andrade está entre os estrangeiros que mantêm ações sociais em Beira. Ela conta que duas pré-escolas do projeto Pro-African Kids, que funcionam desde 2012, foram totalmente destruídas.

“Nossas duas pré-escolas estão com toda a infraestrutura comprometida. Elas não têm mais telhado, não têm mais parte elétrica, em uma delas caiu um muro que a gente tinha acabado de construir. Até as árvores em que os alunos brincavam caíram. Hoje 74 crianças de até 5 anos estão sem aulas”, lamenta.

Silvia, que há sete anos mora em Moçambique, espera conseguir doações e retomar as aulas na próxima semana.

“Quero eles voltem para escola, nem que seja para brincar no chão mesmo. Queria inclusive trazer crianças que não fazem parte do projeto para ficarem com a gente. Assim, elas não ficam no estresse dos abrigos e a gente dá comida para elas”, afirma.

Apelo por ajuda internacional

ONGs fazem apelos sucessivos por ajuda internacional após a passagem do Idai. A ONU estima que seja necessário um pouco mais de R$ 1 bilhão de ajuda emergencial para os primeiros três meses, mas até o momento doações correspondem a apenas uma pequena fração desse valor.

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) das Nações Unidas estima que 400 mil hectares de plantações, principalmente milho, foram completamente destruídos apenas algumas semanas antes da principal colheita do ano, que acontece de abril a maio. Outras fontes importantes de renda, como pecuária e pesca, também foram seriamente afetadas.

Por isso, o país deve precisar de ajuda por pelo menos de 6 a 12 meses. “A vida dessas pessoas foi devastada. Elas não têm meios de subsistência agora, perderam suas casas, perderam suas fazendas, perderam suas plantações, perderam entes queridos. E eles vão precisar de ajuda pelo menos pelos próximos seis a 12 meses para se recuperarem ”, afirmou diretor do PMA, David Beasley, em comunicado.

Além da destruição da infraestrutura local e das plantações, que são base da economia do país, as autoridades ainda precisam lutar contra doenças comuns após esse tipo tragédia natural, como diarreia e cólera.

Fonte: G1

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